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Como você avalia esses fatos ocorridos no ENEM? O que você acha que deveria ser
feito nesses casos?
Avalio que quem selecionou as redações e resolveu
expor teve intenções pouco voltadas para a educação propriamente dita, e,
talvez, tenha tido olhos políticos com finalidades mais destrutivas do que
construtivas. É evidente que isso propiciou boas discussões, mas se não se
olhar a situação com algum afastamento crítico, pode-se alimentar uma
realidade, no mínimo, parcial e reducionista. Esses mesmos profissionais que
fizeram tal levantamento talvez devessem considerar o percentual que essas
redações representam frente às mais de cinco milhões de redações corrigidas. A
postura é a mesma: supervalorizar um erro diante de centenas de acertos;
supervalorizar uma dúzia de redações diante de milhões delas.
Nesses casos, penso que deve ser levantada uma
discussão séria, pautada na responsabilidade social não só em relação ao
ingresso das pessoas no ensino superior, mas também, em nível mais amplo, em
relação aos usos da linguagem em diversos contextos. Há muitas questões
subjacentes que devem ser consideradas e não se pode ser inconsequente diante
dessa discussão.
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Você tem outros exemplos de casos semelhantes no ENEM ou em outras provas?
Há inúmeros exemplos que
circulam pela internet, mas que não faço questão alguma de expor, por duas
razões. Primeira: fazê-lo parece ser o assumir uma postura superior frente ao
erro do outro para ridicularizá-lo. Não acho que essa seja a melhor saída,
porque só reforça o erro. O problema está aí e todos precisamos procurar
medidas de atenuá-lo. Apenas expor os erros é uma atitude, para mim,
irresponsável. A segunda razão é que precisamos reforçar posturas que possam
agregar, ao invés de atitudes que segregam as pessoas em grupos (os que
acertam, os que erram; os justos, os injustos). Todos nós somos parte de uma
mesma realidade, ligados em redes de responsabilidades.
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