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sábado, 29 de dezembro de 2012

Só junto

O velho Raul, que volta e meia é citado aqui, canta que "Sonho que se sonha só. É só um sonho que se sonha só. Mas sonho que se sonha junto é realidade". E, como (quase) sempre, tem razão o danado. Assim como o sonho é inerente ao homem, o fato de ser gregário também o é.  "O homem é um ser gregário" - isso já dizia Aristóteles - o que eu mais admiro entre os filósofos.

Nesse sentido, ao que disse Fernando Pessoa ("Navegar é preciso. Viver não é preciso"), poderíamos - com todo respeito do mundo - acrescentar: sonhar é preciso. Duas razões me fazem acreditar nisso. Primeiro, porque, ao sonhar, entramos em contato com um universo simbólico revelador de muitas coisas que, muitas vezes, sequer admitiríamos em realidade. Segundo, porque, ao sonhar, podemos projetar nossa vida e enxergar por sobre o mundo imediato que nos cerca e nos engole. Sonhar é preciso.

Também é preciso estar junto. É preciso ser gregário. Não segregar. E, sim, agregar. A gente, junto, se acresce. Cresce. Junto, a gente divide um prato, um livro. Uma tarefa, um percurso. Um problema, uma dor. Juntos, a gente cria uma esperança maior e alimenta uma expectativa mais plausível. Juntos, a gente se faz e se refaz. Juntos, a gente cai e se levanta. Juntos, a gente vai mais longe - mesmo que o caminho é árido, estéril e inóspito (como em Vidas Secas, de Graciliano).

Daí a razão de Raul dizer que "sonho que se sonha junto é realidade", não a realidade pronta, mas a sua criação, a produção do real a cada dia, o real possível, o real buscado. O real "com-partilhado". Já o contrário disso se trata de um sonho. E só. Ou de um sonho. Sozinho. Sobre isso, as mais antigas tradições judaico-cristãs afirmam: "não é bom que o homem esteja só". É na companhia de outra pessoa que ele se constitui. É na companhia de outra pessoa que ele sonha.

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