Valeu a visita!

Daqui pra frente, divirta-se trocando ideias comigo.
Conheça meu outro blog: http://everblogramatica.blogspot.com.br

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Eu sou: identidades

Voltando para casa hoje, ouvindo música e cantando, como sempre, me deparei com uma cena inesperada. Diante de mim, na escada rolante que subia tanta gente, uma mocinha deixou cair sua identidade e não percebeu. Gentilmente, me abaixei, peguei o documento e o restituí a ela, que agradeceu e seguiu "para o alto e avante". Aquilo me fez pensar sobre identidade. Ou melhor: sobre identidades.

"Eu sou a luz das estrelas. Eu sou a cor do luar. Eu sou as coisas da vida. Eu sou o medo de amar. Eu sou o medo do fraco; a força da imaginação; o blefe do jogador. Eu sou! Eu fui! Eu vou! Eu sou o seu sacrifício. A placa de contramão. O sangue no olhar do vampiro e as juras de maldição. Eu sou a vela que acende. Eu sou a luz que se apaga. Eu sou a beira do abismo. Eu sou o tudo e o nada". Além dessas, muitas outras definições Raul vai dando de si ao longo da música Gita.

É claro que ele não está falando de si mesmo (Raul Santos Seixas, nascido em 28/06/45). Um eu-lírico é que fala no poema. De identidade tão múltipla e variada. Tão mutante e desigual. Tão dinâmica e tão fixa (enquanto é). Uma identidade que se refaz, que se reconstrói. Que se entende como parte de tudo, como parte de um todo no qual ela mesma está inserida. Não, não se trata de uma identidade lábil, volátil, frágil e imprecisa. Não se trata de uma identidade esquizofrênica, mas rica em possibilidades.

Foi-se o tempo em que se achava que nossa identidade era como um bloco único, um monolito que já nasce de um jeito e morre desse mesmo jeito. Foi-se o tempo em que o diferente era apenas o outro. Já vai longe a época em que se acreditava que haveria necessariamente um eu e um outro, como duas realidades totalmente dissociadas. Não: hoje se sabe que o um só se constitui na dinâmica da existência do outro. Os vários uns e os diversos outros são parte de um todo maior, que é esta humanidade - ao mesmo tempo única, ao mesmo tempo múltipla. Assim como as identidades: feitas, refeitas perdidas, achadas, acrescidas, alteradas... 

Nenhum comentário:

Postar um comentário