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sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Óbvio ululante

Lá pela década de 50 do século passado, Nélson Rodrigues cunhou a expressão "Óbvio ululante". Como tantas outras do autor, essa expressão ficou integrando o imaginário coletivo brasileiro, muitas vezes com o sentido alterado, dado o desconhecimento do adjetivo "ululante". Já ouvi, muitas vezes, pessoas dizerem óbvio nulante, óbvio lulante... e por aí afora.

Ululante é a característica daquilo que ulula, isto é daquilo que grita. Nesse sentido, a expressão significa que algo é tão claro, tão explícito, tão nítido, que é impossível não perceber. Não se trata de um óbvio simples, mas de um óbvio óbvio, se me permitem o recurso da repetição como intensificador. Considerando que óbvio é a característica daquilo que (de tão claro, lógico e aceito) não requer esclarecimento e que é axiomático e incontestável, podemos deduzir que é óbvio ululante.

Naturalmente há coisas que são absolutamente óbvias para algumas pessoas, e não o são para outras. Desde coisas simples como reconhecer uma hipotenusa ou um zeugma até coisas mais complexas, como saber o que pode e o que deve ser dito em determinadas situações. Quebrar o óbvio pode não ser uma boa ideia, especialmente se se tratar de um óbvio ululante. A não ser que seja óbvio que determinado óbvio deva ser quebrado. Ainda que seja ululante.

Claro que tudo que existe, existe dentro de uma rede de composição e de significação que faz as coisas, ideias e relações serem como são. Por legitimação, tornaram-se óbvias e, por isso mesmo, acreditamos nelas assim como são, assim como se afiguram diante de nós. Salvo uma grande e premente necessidade de 're-volução' ou de leves e perenes mudanças, vale respeitar o óbvio, pois ele é aquilo que mantém coesas as coisas, ideias e relações. O óbvio ululante... muito mais.

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