Valeu a visita!

Daqui pra frente, divirta-se trocando ideias comigo.
Conheça meu outro blog: http://everblogramatica.blogspot.com.br

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Olhos: espelhos retroflexos

Gosto do Beto Guedes, um daqueles muitos mineiros do famoso Clube da Esquina. Assim como Chico Buarque, Nando Reis, Guilherme Arantes (entre os homens) e Fernanda Takai (entre as mulheres), Beto Guedes é daqueles que têm pouco tônus vocal, mas um imenso poder de cantar frases que encantam, ensinam e calam na gente. Um dos versos dele diz: "Seus olhos são espelhos d'água".

Associo aqui esse verso a duas experiências inesquecíveis para mim e que fizeram a minha vida ser melhor. Ambas, ligadas aos olhos. Uma delas, debaixo de uma lua que insistia em não deixar sua luz emudecer diante da noite escura, se deu ao som da música do Chico Buarque, especialmente os versos "Morena dos olhos d'água, tire os seus olhos do mar. Vem ver que a vida ainda vale o sorriso que tenho pra lhe dar".

A outra se deu também nos limites escuros da madrugada que insistia em se fazer passar silenciosa, inexorável em sua marcha na direção dos raios do sol que tardava vir. Minha memória se esforçava para alcançar o texto de Ítalo Calvino, que - no livro Cidades Invisíveis - narra viagens de Marco Polo para descrever ao Rei Kublai Khan as cidades de seu reino - que este desconhecia.

Para Calvino - na voz de Marco Polo -, são nossas pálpebras que nos separam do mundo que vemos, das pessoas com quem convivemos. A certa altura da vida, já não sabemos mais distinguir com nitidez o que fica para dentro das pálpebras daquilo que fica para a fora delas. O ser das coisas e as pessoas externas a nós se misturam com o ser que somos nós, a ponto de não sabermos se vemos o que realmente vemos ou se vemos o que queremos ver - a nossa projeção sobre o que e sobre quem vemos. Nossos olhos: espelhos retroflexos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário