Nesses últimos dias, por escrever menos, tenho dirigido mais as minhas palavras ao ar. Elas têm reverberado, têm tocado tudo que é sólido e penetrado o ouvido das pessoas. Dali, não sei mais para onde elas vão: se para o coração, para o cérebro. Ou mesmo se têm saído pelo outro ouvido - o que significa que certas pessoas não terão me ouvido, que outras terão se afeiçoado e que, por fim, outras terão refletido acerca delas. Claro que uma ação não anula a outra, mas... enfim (como se diz para reticenciar).
As noites são o período em que me habituei a escrever os textos que publico aqui, e tem sido assim: depois do dia, chego à minha casa e escrevo. Publico os textos neste blog já quase no dia seguinte. No entanto, uma série de compromissos que se estendem até quase o dia seguinte têm me impedido de escrever alguns dias. Com isso, algumas palavras têm deixado de sair de mim e, depois de um longo período de preparação para virem à vida, elas têm voltado tristes para uma nova e longa espera que haverá de trazê-las à luz, pois, grávido delas, sustento sua gestação.
Ontem mesmo, durante uma aula de pós-graduação, discutia com meus alunos a respeito da vida que há em nossas palavras. Dizia-lhes metáforas. Fazia comparações entre palavras e, por exemplo, estrelas. Lembrei-lhes de que o brilho que vemos das estrelas agora é o resultado de um movimento que aconteceu, muitas vezes, há milhares de anos. Sim, a origem do movimento delas é absolutamente antigo, mas seu brilho se mantém até hoje e se mostra a nós.
Assim são as palavras que fazemos ecoar ao vento, aquelas que tocam tudo que é sólido e penetra os ouvidos das pessoas. De igual modo são as palavras que escrevemos e que entram nas pessoas por meio de seus olhos, quando são lidas. Elas sofrem uma ação que as catapulta lançando-as para o mundo, fazendo-as entrar na vida do mesmo modo em que a própria vida fez questão de entrar nelas e fazê-las virem à tona, ganharem a luz e o som. Palavras são estrelas de brilho eterno.
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