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quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

A volta do que não foi



Há coisas que acontecem na vida da gente e que dão vontade de que aconteçam novamente. Nem me refiro necessariamente a coisas grandes, grandiosas, inesquecíveis e "quetais". Não. Falo do fato pequeno, corriqueiro, aparentemente sem significação. sim, fatos pequenos em sua extensão, mas de longa duração dentro da gente. Reverberam como ecos em região montanhosa. Multiplicam como espelhos múltiplos para uma só imagem, como se estivessem no límpido interior de um caleidoscópio.

Voltava hoje das minhas aulas na pós-graduação. Vinha repassando o transcorrer da aula e cantando as músicas que a rádio oferecia no interior do carro. Caía uma chuva torrencial - daquelas que obrigam a manter o limpador de parabrisas ligado o tempo todo. Iluminação ruim me fez ver apenas em cima da hora a cena que marcou meu dia. Debaixo daquele temporal, uma mulher atravessava as três pistas da avenida, segurando um bebê em seus braços, que ora serviam para dar o suporte para o corpo do bebê, ora serviam para protegê-lo da chuva. que caía impetuosamente.

Era gigantesca a minha vontade de parar o carro para chamá-la e lhe oferecer carona até algum lugar que pudesse facilitar aquilo que ela precisava fazer. Não sei, fazer algo que lhe encurtasse o caminho e que protegesse melhor aquela criança que, chacoalhada pela corrida da mãe, parecia aconchegada em seu peito, ouvindo as batidas do coração da mãe de um lado. Ouvindo (e sentindo) os fortes pingos de chuva que golpeavam seu corpinho. O movimento dos carros à minha volta, a impossibilidade do retorno em tempo hábil e outros fatores me impediam de ajudá-la.

Agora, já no conforto da minha casa, seco e alimentado, ainda penso na cena. Lembro com saudade do que não aconteceu. Ou como canta Lenine com Juca Novaes, na música "Meio Almodovar": Eu morro de saudades do que era pra viver. Esse é bem o tipo de coisa que acontece na vida da gente e que fica gravada numa dimensão bem maior do que a que o olho simplesmente viu. Maior do que sentiu o coração, que atribuiu à cena um alto relevo, que vai fazê-la memorável por muito tempo. E sempre com a saudade do que poderia ter acontecido.



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