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segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Haja vista

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O dia a dia da gente guarda cenas que merecem ser vistas várias vezes e, se possível, em câmera lenta. Várias vezes, como a gente ouve a mesma música várias vezes - ora prestando atenção nos arranjos, ora na melodia, na harmonia, na regularidade de cada instrumento, prestando atenção na letra. E em câmera lenta para visualizar detalhes que a rapidez da própria cena não permite ver, já que se dá em meio a tantas outras.

Mas a gente corre tanto para não se atrasar para o trabalho, ou para não perder nenhum minuto dos poucos que temos para almoçar, ou ainda porque está todo mundo acelerado. Parece ser anormal fazer as coisas com vagar hoje. Uma pena que estejamos deixando de caminhar para correr. Em breve, mais breve do que imaginamos, correr vai ser uma lerdeza. Precisaremos voar. Seremos super homens, super mulheres, super nada, entediados a gritar: "Para o alto e avante!" Em busca de quê? Ou, como diria Drummond: "José, pra onde?"

Pois hoje, quando voltava do meu almoço, em que procurei apreciar o que comia e o quase um litro de suco de laranja que tomava, me dirigia para o carro, quando um carteiro cumprimentou efusivamente outro: "E aí, rapaz!?!?". Suas mãos espalmaram-se no ar. A marmita aberta deste outro quase caiu no chão. Assim como quase caiu ele mesmo, de tão cambaleante e bêbado que vinha. Seus lábios inchados, talvez de alguma queda ou de alguma pancada. Sua roupa suja, descuidada, rasgada em muitos pontos. O carteiro lhe perguntou da vida, do dia a dia... e, por fim, mandou-o seguir firme.

Quem, nesses rápidos, turbulentos e interesseiros dias, pararia para cumprimentar um homem (bêbado, sujo, mal alimentado) nessas condições com tamanha sinceridade? E o rapaz cumprimentado seguiu, cambaleante, apoiando-se em árvores e paredes, de um lado a outro da calçada, seguindo em frente seu caminho, a seu modo. E devagar. Cenas assim não vemos mais com tanta frequência, por tudo que ela envolve. Se vemos, não temos tempo para olhá-las, para pensar nelas e refletir sobre elas. Não dá, porque o tempo não para. Nem a gente.

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