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domingo, 13 de julho de 2014

Furtar de quem não tem



Bem que queria, mas vou refrear um pouco o meu desejo de escrever sobre o final da Copa do Mundo de Futebol, vencida pela Alemanha hoje. Ainda há um assunto pendente, sobre o qual preciso falar, e ele se deve a uma experiência que se deu no dia em que parti para uma viagem da qual retornei apenas hoje. Tenho muito prazer em dirigir, tanto que em muitos pontos a trajetória chega a ser mais bonita do que o próprio destino.

Todavia, não é da beleza da trajetória que vou tratar, mas de algo ruim da minha ida. Aconteceu antes mesmo de eu pegar a estrada. Abastecia o carro e, na hora de pagar, passou pelo posto um senhor com sua filha, puxando uma carroça e cumprimentando os frentistas. Dada a simpatia daquele homem quis saber um pouco mais e perguntei sobre ele ao frentista. Este me contou que se tratava de uma pessoa especial e batalhadora. Quando se distanciava de nós, o frentista lhe perguntou sobre aquela nova carroça que ele puxava. A resposta me surpreendeu.

"Ah, esta daqui é nova mesmo, porque aquela lá me roubaram". E se foi para o lugar da rua em que mora num trailler abandonado, que foi pintado por ele a ajeitado para morar com a filha. Entre mim e o frentista surgiu a inevitável pergunta: estão roubando até carroças? A indignação era evidente, a perplexidade, e todo tipo de sentimento impactante que possa ser gerado deste incrível fato de um puxador de carroça ter furtado o seu objeto de trabalho.

É interessante como se configuram os objetos de desejo (e ou de necessidade) em função das posições que as pessoas ocupam neste mundo. Há quem furte carros de luxo; há quem furte carroças. O ato é o mesmo, mas a nossa comiseração difere em razão da condição social de quem foi furtado, de acordo com sua capacidade de se refazer do que lhe tiver sido furtado durante a viagem que é a própria vida. Assim como a minha viagem, a vida em si mesma tem em sua trajetória paisagens tiram a nossa atenção do destino pretendido.

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