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domingo, 7 de dezembro de 2014

Cultura do pelo menos




Há muito tempo um amigo fez um comentário no meio de uma conversa comprida que tínhamos sobre diversos assuntos, principalmente sobre um dos aspectos do que representa viver em São Paulo. Depois de abordarmos problemas como trânsito e violência, ele me saiu com esta: "é. Parece que a gente está se acostumando à cultura do 'pelo menos'. Não só a cidade continua com os problemas e os tem aumentado, como também nós parecemos mergulhar na cultura do pelo menos.

Palmeirenses hoje viveram um drama daqueles típicos de final de campeonato, que deixam o torcedor sem unhas, completamente esgotado em suas emoções e um tanto desidratado de tanto chorar, rouco de tanto gritar. Teve até um palmeirense que infartou na arquibancada. Mas no fim, apesar de descontentes com o rendimento geral do time no campeonato, admitem, aliviados que "pelo menos" o time não caiu para a segunda divisão. Pelo menos isso.

Vemos a cada dia um número crescente de atos violentos na cidade. Não só violência física, que vai se tornando banalizada e virando coisa tão comum, que já somos indiferentes; mas também a violência psicológica que esmaga o espírito de muitos silenciosamente. Em vez de reagir, começamos a agir como Poliana e a dizer que "pelo menos" continuamos vivos; "pelo menos" temos nossos empregos e grupos (em que sofremos o que quer que soframos). Pelo menos isso.

E de pelo menos em pelo menos, vamos alargando nossos horizontes de tolerância, como naquele poema de Brecht, cujos primeiros versos dizem: "Na primeira noite, eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim". Tomara que possamos ter força suficiente para evitar que o menos do "pelo menos" não chegue a um nível irrecuperável, irreversível, a ponto de chegarmos ao absurdo de dizer que "pelo menos" tivemos algo um dia.

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