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sexta-feira, 20 de março de 2015

Perto, mas nem tanto

Resultado de imagem para sem teto barco-casa na guanabara

Li, com uma perplexidade imensa, a notícia segundo a qual um rapaz, considerado como sem-teto, começou a viver suas noites em um barco-casa, na Baía da Guanabara, no Rio de Janeiro. Sua decisão se deveu ao fato de ele temer ser agredido durante a noite, quando dorme em calçadas, sem a menor proteção. Tem 30 anos o rapaz (não vou citar o nome dele aqui) e construiu sua própria embarcação. Ele foi citado até na imprensa francesa, e aqui a reportagem está no seguinte endereço: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2015/03/1605840-sem-teto-constroi-barco-casa-na-baia-de-guanabara.shtml.

Três coisas me vieram à mente. Bem daquelas que vêm e ficam como se estivessem sendo ruminadas para ganharem um destinho nessa minha cabeça que pensa 200 coisas ao mesmo tempo. A primeira delas foi que a história desse rapaz me lembrou a narrativa de Guimarães Rosa: "A terceira margem do rio", em que, por outras razões, o protagonista toma decisão semelhante: decide ir morar naquela que chama de terceira margem do rio. Me dá uma sensação incômoda de estar longe, mas nem tanto; perto, mas nem tanto. Enfim, uma posição que não é nem deixa de ser.

Tomar conhecimento dessa opção do sem-teto no Rio de Janeiro também me fez pensar sobre as formas de violência de que ele é vítima todos os dias. E noites, como se pode ver. Parece-me que ele opta por aquela que o fere menos. Entre correr o risco de ser fisicamente agredido por outra pessoas na calada na noite e escolher ser agredido pelas águas extremamente poluídas da Baía da Guanabara e pelo cheiro horroroso que dela emana, ele optou por esta última - que também não deixar de ser uma violência de pessoas na calada da noite e do dia. Ainda que indiretamente. Assim, ele está longe, mas nem tanto da violência. Perto mas nem tanto.

Talvez devesse existir o não-lugar, um espaço em que se vivesse em suspensão temporária, apenas para se poder tomar o fôlego necessário pra poder dar continuidade à lida, à vida, ao rumo da saída. Não penso em um não-lugar como um Triângulo das Bermudas e tampouco como o Buraco Negro, mas um lugar em que pudéssemos estar para não estar aqui quando fosse necessário (não por irresponsabilidade, mas por necessidade). Um lugar, assim, perto, mas nem tanto. Longe, mas nem tanto.

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