O olhar da gente é algo tão misterioso quanto o próprio olho, tão pequeno e, ao mesmo tempo, tão capaz de fazer a gente vivenciar as mais diversas emoções. Quem tem olhos para ver, que veja - disse o cristão nas primeiras décadas de nossa Era. Nem pretendo entrar aqui na diferença semântica entre olhar e ver, porque pressuponho que seja de conhecimento geral. O modo como vemos as coisas depende bastante de como olhamos para elas. E nisso, o papel do olho já passa a ser menor.
Comecei a atender um aluno hoje no escritório. Filho de japoneses, nascido no Chile e recém-chegado ao Brasil. Morando aqui há 3 meses, iniciou seus estudos há um mês e, embora consiga acompanhar bem as aulas e as conversas com os amigos, a parte escrita não tem sido algo que ele tenha conseguido olhar com bons olhos. Normalmente sua vista fica turvada diante de documentos escritos, inclusive comandos de prova. E, claro, a parte escrita também está ofuscada diante dele.
Ao procurar tranquilizá-lo e mostrar que entendia qual era seu problema e que tinha condições de auxiliá-lo a ampliar o alcance da sua visão perante aquele problema, pude vê-lo respirar aliviado, sentir-se amparado e - o que há de melhor - abrir um sorriso diante da situação. Considerando-se um menino japonês (cuja cultura é a pouca expressão de emoções), ver seu sorriso substituindo a feição tensa que o caracterizava até ali foi uma conquista muito generosa para mim.
Quando muda o nosso olhar diante das coisas e, por essa razão, passamos a vê-las mais como elas são - e menos como pensávamos que fossem - os nossos olhos não se ligam apenas à intelecção por meio do nervo ótico, mas ligam-se às nossas emoções por meio de fios de esperança que nos tornam mais fortes e nos dão a vontade de ir mais longe. Assim, em vez de olharmos apenas até o limite de nossas portas e janelas, lançamos o alcance de nossa visão ao horizonte infinito.
Nenhum comentário:
Postar um comentário