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terça-feira, 17 de março de 2015

O errado se torna certo

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Gosto muito, muito mesmo, da música Valsinha, do Chico Buarque. Sempre que tenho o CD no no carro e chega a vez desta faixa, eu a ouço reiteradas vezes sem nunca me cansar. Gosto de contar o compasso da valsa, me encantam os arranjos, distingo cada instrumento e, sobretudo, admiro a narrativa impressa na letra. Ela faz o relato de um casal que tem sua vida mudada, graças a uma mudança de atitude do marido que um dia "chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar, e olhou-a de um jeito mais quente do que sempre costumava olhar, e não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito de sempre falar, e nem deixou-a só num canto...". Vejo o errado se acertando.

O motoqueiro na contramão que vi hoje na saída de casa me fez pensar o contrário: há certas práticas que vêm chegando como exceções. E ela é feita uma vez. Repetida. E mais uma vez. E outra. A não negação daquela atitude dá ao praticante a noção de que "tudo bem". Então, ele passa a fazê-la não mais como exceção. A exceção vira a regra. Assim, aquele motoqueiro habituou-se a descer pela contramão o trecho que, na direção normal, estava sempre congestionado. O que era errado foi chegando de mansinho, encontrou acolhida, fortaleceu-se e virou regra.

Uma mentira contada várias vezes, dizem, se torna verdade. E é fato. Em minhas aulas de pós-graduação, discuto isso com os alunos. Aquele que tem o poder da palavra, que tem a responsabilidade por uma informação, por ser fonte privilegiada, passa essa informação da maneira que melhor lhe aprouver. A título de exemplificação na nossa história, ainda há quem acredite que fomos descobertos em 1500. Atualmente vê-se isso na imprensa, que manipula informações a seu bel-prazer e ao sabor das filiações ideológicas. O que não é nem pode vir a ser, acaba sendo.

O certo sempre foi certo? O certo sempre será certo? Não sei mesmo quando o certo passou a ser considerado certo. Porque é o tipo de coisa que pede complemento: é certo para quem? É certo quando, até quando, como, quanto, por quê?  Se é certo existir a instabilidade do certo, não pode ser errado violar o que atualmente é considerado certo. Mas, por outro lado, se violar o certo é a coisa certa a se fazer, o que é que vai ser errado? Vou pensar melhor sobre o motoqueiro.


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