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quarta-feira, 8 de julho de 2020

O poder das palavras na vida cotidiana


As palavras que nós dirigimos às pessoas que nos cercam não entram por um ouvido e saem pelo outro. Mais, muito mais do que isso: elas percorrem o nervo auditivo e chegam ao cérebro onde serão processadas e interpretadas para que gerem uma reação. Quanto mais elas tocarem emocionalmente as pessoas que nos ouvem, mais elas ficarão registradas em sua memória e, dependendo do tipo de emoção despertada e da sua intensidade, tais palavras vão receber um espaço fixo nas lembranças, de tal forma, que vão se associar às referidas emoções como se passassem a andar coladas umas às outras. Isso significa que, ao dirigirmos nossas palavras, temos o poder de marcar indelevelmente as pessoas. Para o bem. Para o mal. (o triste é quando nossas palavras são indiferentes)
É como aquela experiência que fazemos com uma folha de papel. Quer saber como? Pegue uma folha de papel, qualquer que seja: sulfite, por exemplo. Observe-a com o seu olhar, seu olfato, seu tato; ouça o barulho que ela faz chacoalhando-a no ar. Como você a caracterizaria neste momento, considerando sua percepção? Vamos a uma segunda etapa: aumente o seu contato com ela. Para tanto, dobre ou amasse a folha o tanto e o quanto quiser ou puder. Agora desdobre ou desamasse a folha, a fim de voltar ao aspecto inicial, sem marcas de dobra ou de amassado.
Em breve, você verá que as marcas deixadas por sua ação vão ficar naquela folha por muito tempo. Mesmo que você a estique, mesmo que você a passe com ferro elétrico, mesmo que você a coloque sob uma pilha imensa de livros, ela não voltará ao seu estado inicial. Ou seja: ela guardará as marcas da sua ação. Dessa forma, também ocorre com o efeito das palavras que dirigimos aos outros, ou com as que nos dirigem, quando elas atingem nossas emoções. Por certo, não somos folhas de papel e, por isso mesmo, aprendemos a lidar com tais situações. Muitas vezes, esquecemos voluntária ou involuntariamente. Outras vezes, nós as ressignificamos. Mas uma coisa é fato: as palavras marcam e levam a alguma forma de ação.
As palavras são uma forma de ação sobre os outros, uma maneira de produzirmos coisas nas pessoas, um jeito de movimentarmos sua percepção, uma ferramenta para acrescentarmos algo ao seu conhecimento, um instrumento para despertar emoções boas ou ruins. Elogios e difamações, estímulos e desestímulos, honra e desonra, encorajamento ou desencorajamento... enfim: por meio das palavras, agimos sobre as pessoas. E é importante lembrar que, também por meio das palavras, as pessoas agem sobre nós.
Por essa razão, sabendo do poder que as palavras têm, é fundamental que saibamos lidar com elas para intermediar as nossas relações com as pessoas que nos são próximas. “Palavras, ai, palavras: que estranha potência a vossa”, escreveu Cecília Meirelles reconhecendo o incrível poder movimentado pelas palavras. Ela estava consciente de que é com as palavras que estabelecemos nossas principais interações; é com elas que criamos, mantemos ou destruímos tudo o que existe.
Sim, segundo a tradição judaico-cristã, por meio das palavras o mundo e tudo que há nela passou à condição de existência. De acordo com o relato bíblico, Deus criou o céu e a terra, o ar e a água, os animais em geral e o ser humano em particular... tudo foi criado pelo famoso “fiat” (faça-se) divino. Independentemente de crermos nesse relato, vale a intenção do autor, no sentido de que podemos, no nosso dia a dia, imprimir a nossa marca nas coisas – criando-as, alterando-as ou fazendo-as deixar de existir.  
 Um relacionamento, por exemplo, começa com palavras, com uma conversa que aproxima as pessoas. Seu uso cuidadoso faz com que elas acreditem em um futuro juntas (sem saber que já o estão vivendo). Dependendo de como as palavras forem sendo compartilhadas ao longo da vida desse relacionamento, ele poderá estar se fortalecendo ou poderá estar se deteriorando. Nesse sentido, as palavras podem estar levando à promoção da vida ou à aproximação da morte daquela relação. Sempre dependerá dos principais agentes de linguagem: quem fala e quem ouve. Dependerá das intenções em jogo: fortalecer, elogiar, motivar, estimular, agradecer, reconhecer... ou o contrário.
E é assim, escolhendo entre tudo o que pode e deve ser dito, selecionando o momento mais propício para dizer, a forma mais adequada, a finalidade mais nobre, vamos escrevendo ou falando o texto da nossa vida, deixando nossa marca na vida daqueles com quem nos relacionamos dia após dia. A meu ver, considerando o fato de vivermos ao lado de pessoas a quem queremos bem, deveríamos escolher sempre as melhores palavras para lhes dirigir, a fim de que eu possa lhes dar o melhor de mim para produzir nelas o que elas têm de melhor.

Um comentário:

  1. Sem palavras que definam o quanto você nos toca com suas palavras!!!! Magnífico. Mais uma vez, parabéns!!!

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