As palavras que
nós dirigimos às pessoas que nos cercam não entram por um ouvido e saem pelo
outro. Mais, muito mais do que isso: elas percorrem o nervo auditivo e chegam
ao cérebro onde serão processadas e interpretadas para que gerem uma reação. Quanto
mais elas tocarem emocionalmente as pessoas que nos ouvem, mais elas ficarão
registradas em sua memória e, dependendo do tipo de emoção despertada e da sua
intensidade, tais palavras vão receber um espaço fixo nas lembranças, de tal
forma, que vão se associar às referidas emoções como se passassem a andar coladas
umas às outras. Isso significa que, ao dirigirmos nossas palavras, temos o
poder de marcar indelevelmente as pessoas. Para o bem. Para o mal. (o triste é
quando nossas palavras são indiferentes)
É como aquela
experiência que fazemos com uma folha de papel. Quer saber como? Pegue uma
folha de papel, qualquer que seja: sulfite, por exemplo. Observe-a com o seu
olhar, seu olfato, seu tato; ouça o barulho que ela faz chacoalhando-a no ar.
Como você a caracterizaria neste momento, considerando sua percepção? Vamos a uma
segunda etapa: aumente o seu contato com ela. Para tanto, dobre ou amasse a
folha o tanto e o quanto quiser ou puder. Agora desdobre ou desamasse a folha,
a fim de voltar ao aspecto inicial, sem marcas de dobra ou de amassado.
Em breve, você
verá que as marcas deixadas por sua ação vão ficar naquela folha por muito
tempo. Mesmo que você a estique, mesmo que você a passe com ferro elétrico,
mesmo que você a coloque sob uma pilha imensa de livros, ela não voltará ao seu
estado inicial. Ou seja: ela guardará as marcas da sua ação. Dessa forma,
também ocorre com o efeito das palavras que dirigimos aos outros, ou com as que
nos dirigem, quando elas atingem nossas emoções. Por certo, não somos folhas de
papel e, por isso mesmo, aprendemos a lidar com tais situações. Muitas vezes,
esquecemos voluntária ou involuntariamente. Outras vezes, nós as
ressignificamos. Mas uma coisa é fato: as palavras marcam e levam a alguma
forma de ação.
As palavras são
uma forma de ação sobre os outros, uma maneira de produzirmos coisas nas
pessoas, um jeito de movimentarmos sua percepção, uma ferramenta para
acrescentarmos algo ao seu conhecimento, um instrumento para despertar emoções boas
ou ruins. Elogios e difamações, estímulos e desestímulos, honra e desonra,
encorajamento ou desencorajamento... enfim: por meio das palavras, agimos sobre
as pessoas. E é importante lembrar que, também por meio das palavras, as
pessoas agem sobre nós.
Por essa
razão, sabendo do poder que as palavras têm, é fundamental que saibamos lidar
com elas para intermediar as nossas relações com as pessoas que nos são
próximas. “Palavras, ai, palavras: que estranha potência a vossa”, escreveu
Cecília Meirelles reconhecendo o incrível poder movimentado pelas palavras. Ela
estava consciente de que é com as palavras que estabelecemos nossas principais interações;
é com elas que criamos, mantemos ou destruímos tudo o que existe.
Sim, segundo a
tradição judaico-cristã, por meio das palavras o mundo e tudo que há nela
passou à condição de existência. De acordo com o relato bíblico, Deus criou o
céu e a terra, o ar e a água, os animais em geral e o ser humano em
particular... tudo foi criado pelo famoso “fiat” (faça-se) divino. Independentemente
de crermos nesse relato, vale a intenção do autor, no sentido de que podemos, no
nosso dia a dia, imprimir a nossa marca nas coisas – criando-as, alterando-as
ou fazendo-as deixar de existir.
Um relacionamento, por exemplo, começa com
palavras, com uma conversa que aproxima as pessoas. Seu uso cuidadoso faz com
que elas acreditem em um futuro juntas (sem saber que já o estão vivendo).
Dependendo de como as palavras forem sendo compartilhadas ao longo da vida
desse relacionamento, ele poderá estar se fortalecendo ou poderá estar se
deteriorando. Nesse sentido, as palavras podem estar levando à promoção da vida
ou à aproximação da morte daquela relação. Sempre dependerá dos principais
agentes de linguagem: quem fala e quem ouve. Dependerá das intenções em jogo:
fortalecer, elogiar, motivar, estimular, agradecer, reconhecer... ou o
contrário.
E é assim,
escolhendo entre tudo o que pode e deve ser dito, selecionando o momento mais
propício para dizer, a forma mais adequada, a finalidade mais nobre, vamos
escrevendo ou falando o texto da nossa vida, deixando nossa marca na vida
daqueles com quem nos relacionamos dia após dia. A meu ver, considerando o fato
de vivermos ao lado de pessoas a quem queremos bem, deveríamos escolher sempre
as melhores palavras para lhes dirigir, a fim de que eu possa lhes dar o melhor
de mim para produzir nelas o que elas têm de melhor.
Sem palavras que definam o quanto você nos toca com suas palavras!!!! Magnífico. Mais uma vez, parabéns!!!
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