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terça-feira, 8 de outubro de 2019

Entre o olhar e o ver



Há poucos dias publiquei no Instagram e no Facebook a imagem acima, à qual juntei um pequeno texto que dizia: "olhar a vida é assim como numa foto - podemos ver o que brilha, o que tira o brilho ou o que está no meio. Com o texto, pretendi apenas lembrar que a opção de olhar é nossa, uma vez que podemos direcionar o foco do nosso olho para onde quisermos. No entanto, as coisas que olhamos são o que entra pelos nossos olhos, mas elas não são necessariamente as coisas que vemos, isto é, não são aquilo que interpretamos. Há algo entre o olhar e o ver.

Se, por um lado, temos a liberdade para olhar para qualquer coisa que esteja ao alcance das possibilidades da nossa visão, por outro somos limitados em nossa interpretação. Isso porque diversos aspectos de natureza emocional, e sociocultural podem condicionar a interpretação que damos para o que vemos. Quem convencerá uma criança de que a sombra de um galho em sua parede não é o sinal da presença de um monstro nas redondezas de sua cama? Quem convencerá uma pessoa previamente desconfiada de que o que ela acha que é pode não ser?

Que mistério terão as coisas? Ecoa-me aqui na mente o verso de Fernando Pessoa (na verdade, do seu heterônimo Alberto Caeiro) no poema "O guardador de rebanhos": o único sentido oculto das coisas é que elas não têm sentido oculto algum. As coisas não têm significação; elas têm existência". Nós é que lhes atribuímos os significados e os sentidos. Assim, limitados e fortemente pressionados por nossas crenças, emoções etc., somos levados ao pior dos erros: julgar como realidade aquilo que é apenas o que achamos. Dessa forma, as coisas deixam de ser elas mesmas para serem o que achamos que são. A partir daí, sempre as veremos como queremos e não como são.

Brincamos de Deus e resolvemos dar vida para o que era apenas uma coisa. Um fato mal interpretado, mal visto, passa a guiar todas as nossas atitudes quando olhamos torto, enxergamos obliquamente e nos damos o direito de pensar como Parmênides, filósofo pré-socrático que dizia: "o que é, é; o que não é, não é nem pode vir a ser". Em tempos de modernidade líquida (Zygmunt Bauman), essa ideia soa até engraçada - para dizer o mínimo. Na foto que publiquei, fará toda diferença olhar para o que brilha, para o que tira o brilho ou para o que está no meio. Na vida também.

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