Valeu a visita!

Daqui pra frente, divirta-se trocando ideias comigo.
Conheça meu outro blog: http://everblogramatica.blogspot.com.br

quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Lidar com irritação


Resultado de imagem para cara de incômodos


Volto à escrita do blog depois de meses de absoluta correria com todas as atribuições que tenho no meu dia a dia. Nesse tempo todo, muito me incomodou ficar sem escrever, justamente porque esta é uma das atividades que mais me agradam. Às vezes me incomoda não dar conta disso, mas logo me convenço de que só não consegui pelo fato de ter priorizado outras ações. De modo que não é culpa de nada nem de ninguém, exceto das minhas escolhas. E o meu incômodo se dá por conta de uma necessidade virginiana de querer dar conta de tudo e da melhor maneira possível. Mera ilusão. Estou aprendendo a lidar com as minhas irritações.

Lidar com incômodos é, portanto, uma das muitas virtudes com as quais devemos contar no nosso cotidiano, uma vez que eles fazem parte da vida de todos. E é exatamente por isso que devemos tomar cuidado para que o nosso incômodo não se torne o incômodo do outro ou dos outros. Pensei algumas ações para trabalhar em mim mesmo o incômodo e esta foi a principal delas: reconhecer que o incômodo é meu e se dá por escolhas minhas. Dada a minha história de vida, a partir de um certo fato, meu cérebro desencadeia uma série de emoções em mim, especialmente a irritação. Por essa razão, não faz o menor sentido jogar nas costas do outro o mau-humor em que posso me encontrar pelo fato de estar incomodado. Não significa fazer-me de bobo e me calar, mas racionalizar o sentimento, compreendê-lo e expor para o outro a situação de modo produtivo e proativo.

Ao estudar Comunicação Não-Violenta aprendi que o outro não é a causa do nosso incômodo; ele apenas pode despertar em nós uma necessidade interna  não resolvida (psicológica, por exemplo). Pelo fato de essa necessidade ter sido provocada e novamente sentida como não resolvida, ficamos irritados. Na verdade, a ação de alguém não é a origem do que nos incomoda, mas apenas o disparador. Assim, enquanto não trabalharmos essa necessidade, continuaremos sujeitos à irritação e brigando com as pessoas cujas ações nos desagradaram. Essas ações, na verdade, representam oportunidades para que trabalhemos em nós a superação de algo que há muito tempo nos vence.

É assim com os objetos ou com situações também. Precisamos aprender a vê-los apenas como objetos ou situações, distintas (bem distintas, aliás) do que pensamos sobre eles. A interpretação que damos aos objetos ou situações é que nos irrita e nos faz transferir para eles o incômodo que é nosso. O professor que se irrita com a letra feia (e o classifica de desleixado); o pai que se irrita com a roupa não guardada pelo filho (e o qualifica de preguiçoso); o motorista que se irrita com uma fechada que toma (e o xinga... ou melhor, xinga a mãe); o amigo que se irrita com o esquecimento do colega (e o qualifica como desprezível)... muitos são os exemplos, que se multiplicariam espiralmente.

Não nego que há quem faça coisas apenas para irritar outros, apenas pelo simples prazer de provocar irritação. Essas pessoas têm menos habilidade socioemocional e precisam de orientação. As demais pessoas não precisam ser o alvo onde vamos atirar as balas ou as lanças de nossas necessidades interiores não resolvidas. O que nos irrita não precisa necessariamente irritar os outros, não precisa necessariamente virar punição aos outros, até porque eles nem sempre têm consciência de que despertam tamanho mal-estar em nós. "O inferno são os outros", diria Sarte, já que o outro é, de certa forma, um limitador de nossas ações. Por isso, quanto mais nós tivermos consciência do que irrita uns aos outros, melhor vai ficar a convivência e mais vamos poder nos ajudar a resolver nossas necessidades interiores mais elementares. Assim poderemos conviver melhor (inclusive conosco).


Nenhum comentário:

Postar um comentário