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quarta-feira, 18 de maio de 2016

O bouquet inteiro e a rosa quebrada




Pensei muito em abrir este texto com uma referência a uma música que as rádios insistem em tocar, porque os ouvintes insistem em ouvir: Aquele 1%. Mas, como minha reflexão parte da imagem de rosas, prefiro iniciar citando Cartola, quando canta: "Queixo-me às rosas. Mas que bobagem! As rosas não falam; simplesmente as rosas exalam o perfume que roubam de ti." Esta semana, ao entrar em um mercado, apressado como sempre, deparei-me com uma série de rosas sendo vendidas logo à entrada. Dispostos em vasos no chão, os bouquets coloriam a entrada do mercado e, de todos eles, um me chamou a atenção: ele tinha rosas vermelhas lindíssimas, das quais uma tinha o talo quebrado.

Muito me intrigou aquela imagem e, por várias razões, olhei para aquele bouquet a fim de observar o conjunto de rosas. Infelizmente a que mais me despertava a atenção era a de talo quebrado. Sim, "aquele 1%". Perguntei pra mim mesmo: por que no meio de tantas rosas bonitas, de um vermelho vivo, molhadas como se estivessem sob o orvalho, exalando perfume que rescendia no ambiente... por que aquela rosa no talo quebrado  (como canta Caetano Veloso) continuava "arrastando meu olhar como um ímã"? Então, me entreguei a pensamentos e recordações enquanto o mundo continuava acontecendo no mercado.

Foi então que me lembrei de como em muitos momentos na vida muita gente (como eu) direciona sua atenção justamente para o que deveria ter menos atenção. Me veio à mente o verso de Zelia Duncan: "...e você sempre atento ao que menos importa". Lembrei de tantos alunos que já atendi e orientei, os quais insistiam em ressaltar um defeito que tinham, em vez de valorizar o grande número de virtudes que possuíam. Ao agir assim, sempre se diminuíam e minimizavam qualquer elogio que lhes fosse feito. Valorizavam mais uma crítica que os depreciasse do que milhões de motivações que lhes fossem dadas. Claramente uma questão de foco da atenção.

A escola é pródiga em situações como essa. Há salas de aula na qual, por conta de um aluno, professores têm resistência em entrar. Há discurso de palestrante, que por um "seje" se perde inteiro. Há cantina excelente que, por um lanche estragado, vê-se totalmente desqualificada. Há profissional bom em educação que, por um deslize, vê-se desqualificado. Poderia multiplicar os exemplos fora da escola: o arranhado no carro, que desvaloriza o carro todo; a fruta estragada, que inviabiliza o cesto de frutas; a nota desafinada, que estraga a música toda; uma palavra mal colocada, que anula milhares de elogios e incentivos; um sentimento negativo que aplaca um mundo de bons sentimentos. Talvez este seja o "Truque de Mestre": saber direcionar a atenção. Depois desses pensamentos todos, passei a ver o talo quebrado, mas sem perder de vista a beleza do bouquet inteiro - os 100%.

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