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Daqui pra frente, divirta-se trocando ideias comigo.
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sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Pare Ser




Entre o parecer e o ser tem um face que ora brilha mais do que a outra. Depois inverte. Mas talvez nem uma nem a outra realmente seja. Realmente. Se bem que ser realmente e realmente parecer é algo que parece ser. Ou que tenta dar a impressão de ser. Parecer. Pare Ser. Em todo caso, perecer perece.


Estava em um restaurante hoje aqui do lado de casa, depois de sair do trabalho às 22h. Parece loucura trabalhar até essa hora na sexta. Aí, entre uma mastigação lenta e um olhar cansado para o distante, meus olhos se focaram em um crachá. Era o do garçom. Seu nome: Wanderland. Achei o máximo. Mas, meu pensamento barroco logo me fez pensar os contrários. Quanto da vida daquele rapaz é, de fato, o que os pais dele quiseram que fosse ao lhe dar o nome? Ter o nome de algo não significa ser algo. Em todo caso, parecer parece. 

Daí minha cabeça pós-moderna já quis associar tudo, como sempre em pensamentos rasos que nada mais fazem do que preencher um certo e perene vazio. O fato de alguém ter uma super guitarra não faz dele um excelente músico. Dominar línguas orientais e ocidentais não faz dá a alguém uma singular capacidade de entender o outro. Pregar paz e amor a todos não significa vivenciar a paz e o amor com todos. Ser educador há 20 anos não significa ser educado sempre. Mas em todos os casos, carecer carece.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Ainda dá?



Que razão leva tantas pessoas a deixar para a última hora algo que não poderia ser? No turbilhão em que gira a vida inexoravelmente, tantas coisas vão acontecendo ao mesmo tempo, que a gente não sabe com precisão atribuir a devida prioridade que cada evento tem. Naturalmente isso acontece com mais frequência entre os mais jovens. Conosco costuma ser mais raro. "O tempo não pede permissão para passar".

Tentava ensinar para um garoto hoje (um garotinho que está na casa dos 11 anos) a importância de saber dar a cada coisa o tempo que ela deve ter. A importância de se planejar com um mínimo de estratégia para, pelo menos nas coisas essenciais da vida, não ser dilacerado pela urgência - esse monstro que abre sua boca e só se sacia depois de engolir quem se fizer de vítima dela.

É claro que ele deve ter absorvido uma porção muito pequena de tudo que lhe falei. Claro: a pele imberbe, a voz ainda infante e a puberdade em seu princípio não permitem ainda a compreensão adequada. Eu mesmo disse a ele que só aprendi isso depois de ter vivido os 11 anos algumas vezes. Mas, enfim, tomara que ele não deixe para cima da hora a oportunidade de entender que, com algum planejamento, a gente se torna mais livre e, com certeza, tem mais tempo para não cair em cima da hora.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Chegadas e partidas



É bonito ver as pessoas atingido seus objetivos. É como se víssemos a satisfação de um desejo, de uma fome mitigada grão por grão. É como chegar ao topo de uma escalada de milhares de degraus. Como chegar o centímetro final de uma maratona.

Hoje vivenciei uma situação dessa e não me dei conta dela até que vi os olhos marejados de um aluno que atendo já há mais de dois anos. Esta está sendo sua última semana de aula no Colégio, e ele faz orientação de estudo comigo e foi superando dificuldade por dificuldade. Ver como ele me ajudou a construir a aula de hoje foi algo de uma maturidade que eu não havia notado ainda.

Quando terminamos a aula, ele se levantou e deu a volta na mesa. Até então, isso jamais havia acontecido, e eu, sem entender, vi seus braços se abrindo para me abraçar. Olhos marejados. Suas palavras simples de gratidão foram para ecoar para sempre. Para sempre, porque o vi superar suas dificuldades grão por grão. Eu o vi chegar ao topo depois de milhares de degraus. Eu o vi chegar ao últimos centímetros de uma maratona e entender que aquela não era uma porta se fechando. Ao contrário.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Simplesmente complexo



Sempre me lembro da crônica de Fernando Sabino "A última crônica", como um texto modelar de como algo que se diz pode ser um núcleo criador de outros tantos núcleos. Quer dizer: de um assunto central, ele consegue acessar, ora direta ora indiretamente, outros tantos assuntos de igual força e relevância. Isso, entretanto, não é o que mais de encanta naquele texto.

Em "A última crônica", é retratada uma situação em que uma família de negros (ou "pretos", "seres esquivos" - como ele diz) se reúne em um boteco da Gávea para "fazer algo mais do que matar a fome". Por meio desse núcleo estruturador, Fernando Sabino leva o leitor a refletir acerca da felicidade que pode morar com todos os seus membros nos cômodos das coisas mais simples da vida.

O curioso é que "simples" é uma coisa muito complexa. Padrões de simplicidade variam tanto quanto as cores de um camaleão. A simplicidade, então, como um David Bowie da arte de viver cada dia como se ele fosse uma mesma paisagem que se renova a todo momento, vai se relacionar com a felicidade das pessoas de modo instável. E vice-versa. Opa! Se é vice-versa, já é complexo - porque o simples é só vice ou só versa. Eis uma busca crônica. Mas não última.

Em nossas mãos



É muito curioso como muitas vezes usamos a expressão "Agora está na sua mão", especialmente quando deixamos algo sob inteira responsabilidade de outra pessoa. Chama-me a atenção agora a possibilidade de alguém dizer para si mesmo. Seriam tantas coisas a carregar por entre essas palmas, coisas que latejariam mais ou menos os traços dessas mãos já gastas por dezenas de 365 dias.

Sob a pressão desses dedos longos, há coisas carregadas que já não aspiram o oxigênio com a mesma intensidade; já não dão às artérias o quantum de sangue que deveria deslizar por elas, como crianças no meio do escorregador. Trata-se de coisas cujo calor insiste em tomar emprestado o calor que emana de cada articulação dessas mãos que já apararam lágrimas de riso e lágrimas de choro.

Repousa sobre a superfície dessas mesmas mãos um conjunto de bebês recém-nascidos; projetos de vida que ainda têm muito o que respirar; que ainda têm muito que dar ao sangue um escorregador arterial para ele se divertir escorregando feito criança feliz. Está em nossas mãos o velho exausto e quase desprovido de alma; está em nossas mãos o bebê que quer saborear com os olhos o cheiro do barulho da vida.

domingo, 24 de novembro de 2013

Insan - idade


Hoje, como em todo domingo, fui ao Mercado. Enquanto estacionava, notei que alguém estacionava do outro lado de um modo, no mínimo estranho. Na diagonal. Ocupando simetricamente duas vagas, como se estivesse em ângulo de 45º. Aquilo me deixaria muito incomodado, não fosse o que vi logo a seguir. Continuei a olhar pelo retrovisor, estagnado.

De dentro daquele carro, já bem abalroado, saiu um casal de velhinhos tão bonitinhos, que me comoveu. Perninhas arcadas. Colunas, mais ainda. Saíram, deram-se as mãos e se encaminharam para o interior do mercado. Pus-me a pensar sobre as atitudes que a idade nos leva a tomar - como a de estacionar ocupando duas vagas, sem a menor preocupação.

Já dentro do mercado, pude acompanhá-los por um tempo. Enquanto escolhiam seus produtos, ele se deliciava com biscoitos de polvilho, de uma embalagem que acabara de abrir. Sorri. Fiz minha compra, como em todo domingo. No entanto, quando voltei para meu carro e guardei as coisas, indo para a frente do carro, fiquei estagnado: vi que eu tinha ocupado parte da vaga à minha frente.

sábado, 23 de novembro de 2013

Hã?



Mesmo os não-surdos são um pouco ou um tanto surdos quando, voluntariamente ou não, se mostram incapazes de ouvir o que o outro diz. Muitas vezes os não surdos têm vontade de ser surdos para não ouvir tanta agressão verbal direta ou indireta. Afinal, tem gente que ouve impropérios e ofensas vis. E tem gente como eu, que há algum tempo, convive 24 horas por dia, com um zunido na cabeça, às vezes insuportável. 

Acabo de chegar do teatro. Ainda desnorteado com o que vi e ouvi na peça TRIBOS (http://www.tribos2013.com/#!page2/cjg9), uma composição de 9 cenas interligadas que tratam de um cotidiano familiar no qual se pratica a exclusão, e se sofre a exclusão. Cada membro da família vive isso com o seu modo de excluir-se e de excluir o outro, seja em razão de uma habilidade própria (e, por conseguinte, da escassez dela no outro), seja em razão de uma deficiência física mesmo. Como a surdez.

A peça toma como ponto central de expressão da exclusão um deficiente auditivo da própria família, cuja surdez é tolerada e obrigada a se adaptar ao mundo não-surdo. Os conflitos expostos são interessantes e se estendem da surdez a outras fontes de exclusão. Da família a outros grupos. No auge de um conflito interpessoal, no calor de uma discussão, alguém grita: "eu sei o que é ser surdo!", ao que o outro responde: "eu sei o é FICAR SURDO".

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Ga ga gagueira



No meio da correria do dia hoje, consegui um tempo para ir tomar um café na esquina de onde trabalho. E é engraçado como cada situação tem um potencial enorme de aprendizagem, desde que a gente esteja disponível para absorver o que pode ser digerido (além do café e do pão na chapa).

Ao meu lado esquerdo, um rapaz tomava uma cerveja, sozinho. Uma garrafa mesmo. E não era long neck. E feliz o rapaz, curtindo o que fazia. Enquanto eu pensava sobre o que leva um sujeito a tomar café com pão na chapa enquanto outro toma uma cerveja, entrou um indivíduo e se fez ouvir: "Ih, olha quem tá aqui: o Gaguinho!!" E trocaram um longo abraço.

E não é que o rapaz era gago mesmo. Mas gago gago. Não era pouco gago. Era muito gago. Era Mega gago. Gaguejava nas vogais, gaguejava nas consoantes. Gaguejava muito, mas contava as coisas feliz da vida e compartilhava a cerveja com o amigo. A eles se uniu outro rapaz. E a conversa foi longe. Não pela gagueira, mas pelo prazer da própria conversa.

Um defeito, por certo. Um distúrbio de linguagem. Mas o cara demonstrava estar absolutamente feliz e fazia tudo normalmente com a maior naturalidade. Do mesmo modo, os amigos interagiam sem o menor problema de comunicação. E eu fiquei pensando em quanto a gente se encana com tão poucas coisas e tão menos evidentes. Encanamos tanto, que deixamos cervejas e amigos passarem - assim como um pão pela chapa.

Bolso imaginário



Tem dias em que não é fácil para muita gente encarnar uma fênix e renascer a cada dia do abismo em que se vê atirada. Parece que daquela vez o ar não vai ser suficiente; que os ossos não darão sustentação ao corpo; que os olhos se recusarão a ver o brilho do dia; que o coração não terá forças para dar a próxima batida.

Daí a pessoa pensa se vale a pena tentar mais uma vez. Pensa se realmente é verdade que aquela queda foi apenas mais uma provação. Pensa em quantos penhascos ainda haverá de cair. E continua acreditando que aquela despencada pode ter sido a última e, portanto, achando que, no próximo evento, resistirá à força da gravidade.

Nessa hora, a pessoa fica se lembrando de versos como "Às vezes os meus dias são de par em par, procurando agulha num palheiro", como cantava Cazuza. Ou: "Às vezes eu me sinto uma mola encolhida", como completaria Lulu Santos. Ouve Fred Mercury: "How can I go on?". Daí, tira do bolso imaginário da existência mais um fôlego, respira fundo duas vezes... e segue.


quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Negados



O Dia é da Consciência Negra. Horrível nome que deram para registrar a importância de se valorizar o afrodescendente. Precisava disso não. Mas, dada a imensa desconsideração para com os negros, esse gesto simbólico tornou-se necessário.

Mas não vou fazer aqui discurso de indignação contra todas as injustiças feitas aos negros nessa longa história. Tampouco vou discursar em prol dos direitos tolhidos, silenciados, tomados. Ou, para ceder à força do trocadilho: direitos NEGADOS.

Vou apenas torcer para que a data não se torne tão desimportante quanto tantas outras que passam continuamente o ridículo de ser mais importante do que o que ela representa.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Quando dormir é o que resta


Hoje passando apressado como sempre e, entretido com a música que somente eu ouvia em plena manhã fria e no meio daquele barulhão todo do dia, me deparei com um cara dormindo. Bem coberto, poucas partes do corpo para fora do alcance do cobertor.

Mais tarde, quando voltei e passei pelo mesmo lugar, ele já estava em posição diferente. Aparentemente um pouco mais confortável do que da primeira vez. E pensei comigo: dormindo ainda. Já era mais da metade da manhã.

Passei outra vez, um pouco depois, e ele não só havia dado outra posição para o corpo, mas também estava em outra posição no local onde dormia. A calçada.

Pêndulo de amigos



Na vida a gente tem a graça constante de contar com pessoas que atuam como anjos nos momentos bons e nos momentos ruins. Pessoas com quem a gente ri e chora. Ou não. Pessoas com quem (isso, sim) dividimos momentos simples da nossa existência. Amigo (do latim ad me cum = que está comigo, que vem em minha direção) é como um pêndulo, eu acho.

Na maior parte do tempo, está com a gente, tanto com sua voz, seu olhar, seu contato, enfim: com sua presença física; quanto - o que é mais comum hoje - com sua presença virtual, por e-mail, por sms ou por qualquer dessas redes sociais. Juntos, os momentos são tão singulares e tão significativos, que precisam se disfarçar de simplicidade para poderem ser absorvidos.

Mas tem hora que os amigos, homens e mulheres somem e, num movimento de ida, passam a realizar suas coisas cheios da energia amealhada - também - no contato conosco. De igual forma, nós continuamos seguindo a nossa vida, tendo a mesma fonte de energia.  Depois, independentemente do motivo e do tempo, como um pêndulo, um e outro tornam a se encontrar.

domingo, 17 de novembro de 2013

Não sei se vou ou se fico




Muitas e muitas vezes a vida pode parecer tão boa, que coloca a gente em constante estado de interrogação. Neste feriado, por exemplo, depois do final do expediente da quinta-feira, só me ocupei de tomar banho e me trocar, para, logo a seguir, me dirigir a um barzinho para apreciar boa música e uma boa caipirinha de saquê. Muitas vezes quis vir embora, mas estava tão bom, que fui ficando. Quando vi, a sexta-feira estava clara e ensolarada.

Da sexta para o sábado, com minhas filhas no shopping para comprar os óculos pelos quais uma delas está encantada e louca para usar e corrigir seu astigmatismo, mínimo como o meu. Depois de comprarmos, fomos almoçar. E a nossa conversa estava tão boa, tão agradável, tão cheia de sorrisos e afeto, que nem percebemos a hora de voltarmos para casa e recebermos as pessoas para um churrasco. Não sabia se ficávamos mais um pouco ou se vínhamos rápido pra casa.

Do sábado pro domingo, uma madrugada tão cheia de chuva, que fiz questão de deixar portas e janelas abertas para eu ouvir muito bem o barulho da água caindo, para sentir muito bem o cheiro que rescende da chuva e para ver muito bem as gotas muitas que caíam prateadas pela lua. Não sabia se continuava nesse êxtase ou se dormia. Dormi e acordei várias vezes com essa sensação, sem saber se dormia de vez ou se apreciava a chuva cair.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

A decepção em pessoa



E eu, que pensei que isso era apenas uma folha de alface. Saborosa a enfeitar a salada com a qual eu divertiria meu paladar e integraria esta refeição que ora recebe de mim a repugnância de quem encontrou larvas vivas passeando livremente pela superfície verde e crespa.

E eu, que pensei que esse era um simples medicamento que, a despeito do sabor amargo tão característico, ajudaria a afastar de mim a enfermidade que me corroía aos poucos e agora se ressente da reação alérgica inesperada que ora sufoca as vias aéreas relutantes pela vida.

E eu, que pensei que essa era uma simples brisa que viria passear pelo meu rosto e agitar levemente meus cabelos e minha roupa como quem brinca alegremente com os aromas da manhã, não contava com o odor invisível e enrustido que agora insiste em arrancar de meu estômago até o que nele não há.

E eu que pensei que era apenas você chegando.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Impotência



São 12 milhões de pessoas em absoluta privação nas Filipinas.
É uma São Paulo inteira. Praticamente.
Impotência perante a miséria de homens, mulheres, meninos e meninas.
É uma desgraça ligeira. Não pra gente.
Lamentável a postura do indiferente, de crítica gratuita, estúpida, felina
É uma vasta geleira. De amor ausente.
Há formas de auxílio: alimentos, líquidos, analgésicos, morfina
É uma parca maneira. De ser um pouco gente.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Degraus de dor

Morte de pai e filha está sendo investigada em Mogi das Cruzes (Foto: Reprodução/TV Diário)
http://g1.globo.com/sp/mogi-das-cruzes-suzano/noticia/2013/11/mae-baleada-em-ponto-de-onibus-e-sedada-apos-saber-da-morte-da-filha.html

Estou aqui pensando em graus de dor, depois de ler esta notícia (link acima). Não sou plateia de programas que exploram violência nem de textos ou imagens que expõem esse tipo de conteúdo. Sei da verdade de tudo isso, sei que tudo isso acontece todo dia. Mas, não é isso que me importa aqui. Importa-me, sim, o que revela o sentimento da mãe dessa menininha da foto.

Sua família toda foi baleada em um ponto de ônibus quando se preparava (a família toda: pai, mãe e filha) para levar aos Correios uma carta a ser enviada para Papai Noel. Muito provavelmente confundida, viu-se envolvida numa situação que provocou os disparos que atingiram todos. E todos, inclusive o marginal que atirou, estão internados no mesmo hospital. Menos a menina, que morreu antes de chegar lá.

A mãe, envolta em dor, no auge dos seus 28 anos, ainda com uma bala alojada no pulmão, assim que recobrou a consciência, teve de resistir a uma dor ainda maior do que a de seus ferimentos: a dor de saber que sua filha havia morrido. Haverá dor maior? Um ser humano resistiria a uma dor maior do que essa? Não sei, não sei. Há degraus de dor. Tomara que para esta mãe o próximo degrau de dor não seja o de continuar vivendo.

Um saco de arte de protesto



http://g1.globo.com/mundo/noticia/2013/11/russo-que-pregou-testiculos-na-praca-vermelha-e-liberado.html
Não tenho mais referência do que seja Arte. Nem do que seja Protesto. Nem da Arte como Protesto.
Estava em diversos órgãos de imprensa ontem. Está em muitos hoje: o sujeito pelado da foto aí em cima colocou-se como obra de arte. E arte de protesto. O sujeito pregou os testículos nos paralelepípedos da Praça Vermelha, na Rússia.

Como assim, metáfora? Achou que estava falando metaforicamente? Não, não. Não se trata de uma arte tão abstrata assim. Era concreta mesmo. Ou, melhor dizendo, era concreto mesmo. Trata-se de sentido denotativo: o sujeito pregou, literalmente, os testículos cravando-os nos paralelepípedos. E ali ficou, imóvel, impassível diante da passagem dos transeuntes. 

Piotr Pavlenski é o nome do artista. Sim, como não? Um artista que protestava contra o Governo de Wladimir Putin, no Dia da Polícia, na Rússia. Segundo ele próprio, sua ação era "uma metáfora da apatia, da indiferença política e do fatalismo da sociedade atual russa". Em outra oportunidade, igualmente artística, igualmente de protesto, ele ficou nu e enrolou-se em arame de espinhos.

Com certeza, estou envelhecendo e, à medida que isso acontece, não me parece que eu esteja mais cheio de conhecimento prévio para entender manifestações dessa natureza. 

domingo, 10 de novembro de 2013

Girando e gerando



A gente acha a natureza bonita. E é. Coisas bonitas matam. A natureza mata.
O megatufão Hayan matou, ao menos, 10 mil pessoas. Bem mais.
A natureza continua sendo bonita. E vai continuar matando.

Subiu a temperatura das águas. Mais do que se suportaria.
Por isso a água evaporou. O ar quente subiu. O ar frio desceu.
Os ventos ficaram contrários. E ficaram girando em sentido contrário.

E girando. E gerando. E girando. E gerando. Tragédias.
Tantos tufões humanos.
Deixamos nossa temperatura subir. Emoções sobem. Razões descem.
E a gente segue girando. E segue gerando. Sabe Deus o quê.



sábado, 9 de novembro de 2013

O som do útero

Os bebês do experimento reagiram mais às melodias a que haviam sido expostos durante a gestação

Lembro com muita nitidez de como curti a gestação de minhas filhas. Todos os carinhos na barriga, muita conversa com cada uma delas - e já as chamava pelo nome que viriam a ter. Muito pensamento, muita energia trocada, muito desejo de felicidade para quando nascessem. E, graças a Deus, assim o foi. Uma das coisas que fazia com frequência era ouvir música bem pertinho da barriga para que elas pudessem ouvir no meio daquele líquido amniótico todo.

Minha intenção era apenas que elas pudessem se sentir bem, tranquilas, calmas... e que curtissem um pouco das músicas que curto. Não passava disso. Eu sequer sabia que poderiam entender; e, menos ainda, que poderiam memorizar. Mas, ando a cada dia mais impressionado com as descobertas científicas: novo estudo belga comprova isso.

Os bebês conseguem escutar as melodias, memorizá-las e reconhecê-las ao nascer. É o que afirma o estudo (http://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2013/11/09/bebes-aprendem-melodias-antes-de-nascer-mostra-experimento.htm). É engraçado como a gente faz algumas coisas intuitivamente e, em muitos casos, acaba fazendo mais bem do que pretendia. É extremamente prazeroso ver como minhas filhas gostam de música hoje: de ouvir, de tocar e de cantar. Realmente, a música é pra vida inteira.

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Tudo que sei


Com a descoberta, médicos esperam fazer melhores cirurgias no joelho
Eu ainda estou impressionado.
Sócrates - e sua maiêutica - que muitas vezes afirmou "Tudo que sei é que nada sei", para muitos, parecia dar uma ideia falsa de si; uma ideia pedante ou de falsa modéstia, enfim: de alguém que estivesse querendo se fazer passar por humilde.

Mas a cada vez que leio uma notícia da área da Ciência, mais dou razão ao célebre filósofo. Outro dia, falei aqui dos sóis que são bilhões de vezes maiores do que o nosso. Falei também de um fóssil de mosquito, cujo dna colhido de seu sangue revelou que ele era de dezenas de milhões de anos.

Agora esta: um novo ligamento descoberto no joelho humano. Ele vai do fêmur para a tíbia. Não. Não. Não é novo... assim como se o tivessem inventado e colocado lá. Sempre esteve. Mas está sendo descoberto somente agora, por médicos belgas. Eu fico embasbacado. E, se Sócrates dizia que não sabia nada, eu vou dizer o quê?

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Saber ouvir



Faz dois dias que não escrevo. Também pudera... indo dormir às 2h todo dia para dar conta de uma série de compromissos, estava muito difícil mesmo. A você que acessou o blog e não viu texto novo, desculpe.

Hoje fui assistir a uma peça e, logo que o espetáculo começou, já fui brindado com uma pérola. A peça se propunha a falar de amor, atualizando clássicos como "A Bela e a Fera", associando-se também a textos de Vinícius de Morais, em razão do seu centenário.

A peça começava com uma declamação do próprio Vinícius, numa gravação antiga. Assim que começou o texto e a gente se deleitava ouvindo a voz do poeta, lá pela quarta estrofe, minhas filhas e eu tivemos nossa atenção interceptada por um diálogo que veio da fileira de trás: "ué, será que já começou? tá todo mundo em silêncio!".

O sujeito que perguntou me parece ter associado o início da peça ao silêncio da plateia. Como se se devesse reconhecer o início de uma peça, não por aquilo que lhe é próprio (a declamação do Vinícius - tema da peça), mas ao silêncio que a plateia havia feito.

Ou o rapaz que fez a pergunta me pareceu ensimesmado... ou eu estou ficando velho.

domingo, 3 de novembro de 2013

Favela de classe média



Mais da metade de moradores das comunidades que costumamos chamar de favelas têm acesso a internet, inclusive pelo celular. Está no Estadão. A revista Exame também divulgou pesquisa que revela que 65% dos moradores de favelas têm renda suficiente para integrar a classe média. E integram.

Não é impressionante? Muitas leituras possíveis, uma delas, bem rasa e chã: que bom que melhoraram as condições gerais dos que habitam submoradias. São mais de 11 milhões de pessoas que ainda contam com condições precárias de saneamento básico, de atendimento de saúde, de prestação de segurança, de apoio à educação etc.

Entretanto, assim como têm acesso à internet, por celular, segundo a pesquisa, também têm computadores, TV de tela plana, geladeira, carro e motocicleta. O mesmo crescimento econômico não se viu na própria, chamada, classe média. Um sinal de que a disparidade social está diminuindo, ao serem melhoradas as condições de emprego e renda?