Valeu a visita!

Daqui pra frente, divirta-se trocando ideias comigo.
Conheça meu outro blog: http://everblogramatica.blogspot.com.br

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Foi-se o tempo


Divulgação

Está no portal da Uol hoje, sob o título "Ex-vilão, celular é aposta para ampliar acesso a educação".
Quanto a isso, vale pensarmos o seguinte.

Foi-se o tempo em que a linguagem escrita era considerada a vilã da memória.
Foi-se o tempo em que o mapa era considerado o vilão do conhecer "in loco"
Foi-se o tempo em que o relógio era considerado o vilão da espontaneidade do organismo.
Foi-se o tempo em que a impressão de livros era a vilã do aspecto "clássico" das obras raras.
Foi-se o tempo em que o rádio e o telefone eram considerados os vilões da graça de se ouvir pessoalmente.
Foi-se o tempo em que a televisão era considerada a vilã da leitura de livros impressos.
Foi-se o tempo em que o computador era considerado o vilão de calculadoras e da televisão.
Vivemos um tempo em que um telefone, ou melhor, um smartphone, é tudo isso.
Mas esse tempo também irá.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Absurdos mudos

Prova aplicada para alunos do 4º ano do ensino fundamental
http://educacao.uol.com.br/noticias/2013/10/29/prova-e-aplicada-com-palavra-obscena-em-escola-no-acre.htm

Ontem publiquei aqui um texto pretensamente religioso que era um absurdo.
Hoje trago um texto escolar simplesmente revoltante, publicado para alunos de 4º ano em escola estadual do Acre, com consentimento da própria coordenadora, que insistiu em dizer que "não via nada de mais".

Perdoe, você que me lê. Muito longe de qualquer postura moralista, pedante, purista ou arrogante... com o devido respeito à coordenadora, manifesto aqui apenas minha intenção de cuidar melhor de nossas crianças, no que tange ao uso da linguagem adequada em idades e lugares adequados.

Este absurdo não pode me deixar mudo.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Sem graça


http://br.noticias.yahoo.com/igreja-pede-que-fi%C3%A9is-finjam-cura-para-arrecadar-mais-dinheiro-135226038.html

Talvez poucas coisas peçam tanto equilíbrio antes de fazer qualquer comentário.
Talvez poucas coisas nesta vida sejam tão irritantes quanto isso.
Talvez poucas coisas possam ferir tantas pessoas.

Não vou achar que todos os praticantes pensem, sejam e ajam desta maneira.
Não. Não vou julgar nem achar que um lado esteja certo, e outro errado.
Lembro Renato Russo: "Todos têm suas próprias razões".

Como nasce um erro



Nem precisa de referência. É "O Pensador", famosíssima escultura produzida por Auguste Rodin, que retrata um estado de profunda meditação do homem, despido da roupagem social, em busca sabe-lá-Deus de quê, mas claramente imerso em si mesmo, escutando discursos interiores.

A obra, em bronze, feita no começo do século passado e reproduzida em diversos lugares deste nosso mundão, foi feita como referência à Divina Comédia, de Dante. Representa um momento em que se está diante de uma das portas do Inferno retratado pelo poeta italiano.

Essa imagem me veio à mente hoje ao ouvir um professor dar um conselho ao seu aluno de canto. Você pensa demais; não quero isso, quero que sinta mais e cante o que sente - disse o mestre. E é assim mesmo na vida. Pensar é bom, construir raciocínios, então... é ótimo.

O ruim é quando não se tem controle dos pensamentos e eles se voltam contra quem pensa, a ponto de lhe tirar a tranquilidade para executar alguma coisa que, normalmente, faria com tranquilidade. Entretanto, não o faz porque tais pensamentos parecem poder profetizar um erro, uma falha. Isso é como estar diante do Inferno, pois se passa a pensar não no acerto, mas em justificativas para um erro iminente.


domingo, 27 de outubro de 2013

No Scusate Il Ritardo



Foi surpreendente o número de candidatos hoje a prestar o ENEM. Esse aí da foto, que no momento estava chegando para fazer o exame (foto do Portal UOL, de hoje, 26/10), utilizava uma camiseta com os dizeres "Scusate il ritardo".

Nada mais representativo para o dia de hoje em que se viu muita gente correndo para chegar a tempo de poder estar no interior do estabelecimento e não perder a prova. Muitos infelizmente não tiveram a sorte ou a competência de chegar no horário.

Foi triste ver as fotografias de gente chorando por essa razão. Teve gente que não contou com o atraso do ônibus. Teve gente que não contou com o trânsito. Teve gente que não se preocupou em saber onde era o local da prova previamente. Teve gente, e essa realmente foi impressionante, que perdeu a hora por ter passado a noite estudando para a prova. Nem para este caso vale o pedido "Scusate il Ritardo".



sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Mudo

Augusto de Campos

Chega uma hora em que a gente vê que as coisas vão tomar um rumo muito diferente do que era o pretendido por nós. Não sei bem se "chega uma hora em que". Acho que o melhor seria dizer que há um momento em que percebemos que as coisas tomaram uma direção, um tom, uma forma, uma cor diferente do que pretendíamos.

Aí, como um ridículo ato de quem em plena queda tenta agarrar-se ao que não existe, vemos tudo mudado. Então, queremos mudar tudo, mas o tudo não é mais o tudo que imaginávamos ser. É outro tudo, um pós-tudo, um extudo. Que não fala mais com a gente. Mudo.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Fazer o que se treina





Não, não, não. Não sou de ficar fazendo brincadeira com amigos que torcem para este ou aquele time. Uma ou outra, vá lá; mas frazer brincadeiras ofensivas ou, de qualquer forma, humilhante ou meramente provocativa, não. Isso não. Não o faço no dia a dia, não o farei aqui no blog. Este blog não é um espaço para isso. Mas uma coisa me chamou a atenção no final do jogo.

Todas as entrevistas feitas com jogadores depois das cobranças de pênaltis revelaram algo em comum, especialmente com os que erraram. Os do Grêmio e, sobretudo os do Corínthians - especificamente o que perdeu pelo time paulista - disseram que eles partiram para chutar a bola e executaram o chute a gol do mesmo modo como haviam treinado.

Coloquei-me a serviço dos meus pensamentos para saber o que eles me dizem a esse respeito.Não há a menor sombra de dúvidas de que fazer aquilo que se treina traz mais segurança, mas é preciso fazer isso de fato. Dois do Grêmio e três do Corínthians não o fizeram: ou chutaram na trave ou chutaram de modo defensável. Aí, não dá para dizer que se fez como se treinou.

Na vida também é assim: é preciso que a gente pense em modos de dizer e/ou agir. Sabemos de antemão que vamos enfrentar uma ou outra situação e para ela nos preparamos. Vez por outra, conseguimos fazer precisamente aquilo que pretendíamos. Do mesmo  modo como no futebol (ter um goleiro Dida pela frente), às vezes algumas coisas fazem como nos atrapalhemos e falemos e ou ajamos de modo um pouco diferente e, por consequência, o resultado saia diferente do planejado.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Vergonha alheia



ReproduçãoFoto publicada na página da Uol hoje.
Não sei, mas às vezes eu acho que alguns caras deveriam ser presos.


Essa foto é de um cachorro que teria tirado o biquíni de uma moça na praia. Treinado para isso, o danado. Veja só que legal!! - diriam alguns. Insensíveis, talvez. Iguais ao dono que treinou o pobre animal. Realmente, fazer isso é, para o animal, um "supergesto" de aprendizagem ou do adestramento. Mereceria um prêmio pelo grau de complexidade da ação.

Não sei quem é mais inteligente neste caso. Pensando bem, não sei quem merece mais o prêmio pelo adestramento. Isso me lembra um certo (hoje)senhor que, há uns 15 anos ensinava o filho a levantar a saia das menininhas que tinham sua idade (3 ou 4 anos). Não me refiro à idade do pai.

E ainda é capaz de se orgulhar disso. Eu aqui do meu lado, incapaz de negar o pensamento moralizante, vou entendendo melhor o que é vergonha alheia.

domingo, 20 de outubro de 2013

Se ainda fosse anfíbio...

Charles Guerra/Agência RBS/Estadão Conteúdo
http://noticias.uol.com.br/album/album-do-dia/2013/10/20/imagens-do-dia---20-de-outubro-de-2013.htm#fotoNav=41

É... tem vez que as coisas dão errado e acabam se ajeitando de uma forma, no mínimo, estranha. E este é bem o caso do que aconteceu com este carro. Na madrugada, o motorista perdeu o controle do carro, que saiu da avenida (que era onde deveria estar), atravessou a calçada e a areia, para parar apenas no interior da Lagoa da Conceição, em Florianópolis. Se ele ainda fosse anfíbio...

A gente também, de vez em quando, dá umas engrossadas assim e acaba se situando onde não deveria. Ou a gente se leva para esses lugares indevidos, ou algo leva a gente para eles - como se fôssemos folhas ao vento, como se fôssemos conchas de mar. Daí, como folha ou como concha, sofremos as reviravoltas no ar, tomamos os caldos no mar e ficamos um tanto atordoados procurando inutilmente o sentido do nosso habitat.

Ocorre-me agora uma cena do filme Mulan (sim, aquele da Disney... putz, que saudade de quando assistia dezenas de vezes com minhas filhas...) em que o ancião grita para a jovem chinesa: "Eu conheço o meu lugar!! Está na hora de você conhecer o seu!!!". Tem muita gente por aí, muita gente por aqui, que não sabe aonde ir. Gente com o caiaque na avenida, com motocicleta na piscina, com o barco na pista do aeroporto. Gente que está chorando mais do que deveria... se esse pessoal ainda fosse anfíbio... 



Quase tudo quase nada


Há na imprensa hoje uma notícia (http://noticias.uol.com.br/album/2013/10/19/marinheiro-russo-larga-profissao-para-viver-como-ermitao-na-siberia.htm?abrefoto=1), no mínimo, curiosa: um homem siberiano teria deixado que o ligava a este mundo cotidiano, para viver como ermitão, isto é, para passar seus dias isolado, afastado disso que costumamos chamar "mundo civilizado", repleto de facilidades que tornam a vida diária inquestionavelmente mais rápida, mais ágil. De vida agitada de capitão de navio, ele passou a alguém dedica seus dias a ler a Bíblia e a caçar alimentos para se manter.

Há pouco, cheguei do cinema com minhas filhas. Havíamos assistido ao filme "Gravidade", que narra a impressionante parte da vida de alguns astronautas, que vivem por um bom tempo no interior de uma estação espacial, isolados do contato físico com a Terra - apesar de a terem sob a vista e de, por algum tempo, terem conato por rádio com a equipe da NASA. Afora as belíssimas imagens do espaço aparentemente infinito, este é apresentado em quase todo o filme como um lugar em que falta oxigênio, gravidade e tudo o mais que é essencial à vida humana. Ali, estar no meio do Universo e isolado de tudo que é o nosso universo é uma inquietação constante.

Na semana retrasada havíamos assistido ao filme Elisium (aliás, com estreia de Vagner Moura em produtos holliwoodeanos), que retrata a possibilidade de haver um satélite que comporta uma população inteira vivendo à margem da Terra, em condições completamente favoráveis, a despeito da completa miséria a que ficaram submetidos os que não tinham condições de habitar Elisium. É uma clara luta entre um mundo ideal e outro insuportável.

Os três fatos acima referidos, fictícios ou não, apontam para a possibilidade de cisões absolutamente radicais que convivem simultaneamente com uma busca, às vezes até violenta, pela reconstituição da unidade, da vida gregária inicialmente existente. Essa constante busca do homem, um eterno estado barroco/romântico entre o junto e o isolado, entre o quase tudo e o quase nada, o ideal e o insuportável... talvez seja o aspecto mais perene da vida humana. 

sábado, 19 de outubro de 2013

Na sombra clara





Um desses raros fenômenos naturais aconteceu neste dia 18. Sol, Terra e Lua estiveram alinhados por um tempo. Embora não se tenha podido ver a olho nu, o fenômeno foi registrado pelas lentes mais poderosas, a serviço de pesquisadores e profissionais de natureza diversa.

Durante este alinhamento dois mega corpos celestes impõem à um terceiro, significativamente menor, um estado em que nem lhe toma completamente o brilho - como seria de se esperar, uma vez que a Terra deveria impedir a chegada da luz à Lua - nem deixa brilhar com intensidade normal.

Dessa forma, a Lua pôde ser vista na "sombra clara da Terra". Não pude deixar de lembrar da música Shine on you Crazy Diamond (http://letras.mus.br/pink-floyd/67054/traducao.html), do Pink Floyd, nem pude deixar matutar para encontrar momentos em que astros de grandeza inconcebível se alinham para alterar, para mais ou para menos, o brilho que temos.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Miragem



Olhava bem pra aquilo, com os olhos bem  abertos, arregalados para tentar definir melhor a imagem. Depois, com os olhos bem apertados para focar só no que via. Acendeu sua esperança e correu até lá. Mas o lá não chegava nunca. Era miragem. Dessas que a gente vê nos desertos.

Olhava bem pra aquilo, com os olhos bem  abertos, arregalados para tentar definir melhor a imagem. Depois, com os olhos bem apertados para focar só no que via. Acendeu sua esperança e andou até lá. Mas o lá não chegava nunca. Era miragem. Dessas que a gente vê nas estradas.

Olhava bem pra aquilo, com os olhos bem  abertos, arregalados para tentar definir melhor a imagem. Depois, com os olhos bem apertados para focar só no que via. Acendeu sua esperança e se arrastou até lá. Mas o lá não chegava nunca. Era miragem. Dessas que a gente vê nas pessoas.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Um bloco às escuras

http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/bbc/2013/10/15/estamos-lutando-por-algo-que-ainda-nao-sabemos-o-que-e-diz-black-bloc.htm"Ainda não sabemos pelo que lutamos" era a resposta de uma moça ativista do Black Bloc ontem para a BBC Brasil. E complementava: "mas que pode ser algo muito grande que pode acontecer mais pra frente".

Tem 23 anos a moça que deu a entrevista acima. Nasceu, portanto, em 1990. É claro que ela não se identificou. Por que será? Se está lutando por algo "muito grande que pode acontecer mais pra frente", poderia se identificar. Nem ela nem o grupo nem a causa estão identificados. Um grande bloco às escuras.

Espero que essa moça, no auge de sua juventude, tenha tido tempo de ouvir e interpretar os versos de Bob Dylan que, em 1963, claramente identificado e plenamente consciente do que almejava, lutava com sua música em prol dos direitos civis, com as palavras que nós cantamos em bloco, claro: "The answer, my friend, is blowing in the wind" -  http://www.dailymotion.com/video/xmls2e_bob-dylan-blowing-in-the-wind-1971-youtube_music.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Álcool que o valha

Não. É claro que não vou colocar fotografia dela aqui, por razões mais óbvias do que a necessidade de respirar. É mais claro ainda que não vou fazer aqui discurso moralizante contra bebida alcoólica ou algo que o valha. Ou álcool que o valha.

Era cedo e eu me dirigia para uma escola onde deveria entregar um relatório avaliativo. A música que eu cantava no carro foi rapidamente interrompida por uma imagem que vi ao parar no farol. Pronta para atravessar a rua, ao lado da mãe, uma menininha (3 a 4 anos) que trajava uma camiseta da Jack Daniel's.

Provavelmente ela não tivesse a menor ideia do que estava escrito em sua camiseta. É assim quando a gente é pequeno (só?): dizemos sem saber o que dizemos; dizemos sem saber que estamos dizendo; dizemos o que nos fazem dizer; dizemos o que podemos dizer. E isso nem sempre é o que queremos dizer. Ou o que devemos dizer. Ou algo que o valha.

Tempo de dizer

Dale Greenwalt/Smithsonian Institution/AP
http://noticias.uol.com.br/album/album-do-dia/2013/10/14/imagens-do-dia---14-de-outubro-de-2013.htm?abrefoto=64
A imprensa divulgou hoje (e eu vi pelo site da Uol) a imagem de um mosquito fossilizado. Até aí, nenhuma novidade, já que em sítios arqueológicos se encontram coisas antiquíssimas com alguma frequência. Mas esse mosquito - fêmea - estava com a barriga cheia de sangue, a partir do qual se fizeram os exames - inclusive de datação: 46 milhões de anos.

46 milhões de anos são muitos anos. Muitos. Muitos, nesse caso, é pouco. Teria até dificuldades para calcular quantos anos esse mosquitinho tem a mais que eu. Eu, que hoje vi um garotinho no colo do pai. Mal falava. Corria seus olhos curiosos pelo restaurante enquanto seu pai pagava a conta.

Sua angústia era clara em seu olhar. Olhava para o pai, para outras pessoas, para seu pezinho, para o chão. O pai não fazia a menor ideia de que o garotinho estava tentando avisar que o tênis que deveria estar cobrindo os minúsculos pés, não estava mais. E aquele pequeno queria o tênis em seu pé. Mas não sabia falar. Não viveu ainda o suficiente para saber expressar o que pensa, o que sente, o que quer, o que precisa.

Ele, com pouco mais de um ano, não sabia. Eu, com 45, não sei. Aquele mosquito, com 46 milhões...


segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Meu tamanho


Depois de ver a imagem acima, dá pra gente ter uma ideia do tamanho do nosso planeta diante do Sol, essa estrela que julgamos máxima em tamanho, calor, etc.

Mas depois de assistir ao vídeo no link abaixo, a gente percebe que esse Sol, que para nós é o máximo, não é nada perto de outros sóis bilhões de vezes maiores.

Se a Terra ficou ínfima diante do Sol, que virou pó diante de outros sóis, o que sou eu nesse mundo?

O que eu gostaria de dizer?


domingo, 13 de outubro de 2013

Agradecer de bom grado

"Ninguém lhe diz, ao menos, obrigado" é um dos versos da música Índios (http://letras.mus.br/legiao-urbana/92/), da Legião Urbana - uma daquelas muitas canções de palavras que caíam como uma bomba leve e potente no cérebro da gente nos anos 90, palavras que botavam a gente pra pensar. Nessa música, Renato Russo trata de muitas coisas, tantas que poderiam ocupar um ano de postagens diárias aqui no Sempreever. Mas vou me ater a esta parte da falta de gratidão.

Um grande colega, com quem trabalhei por anos, certa vez me disse que "gratidão nunca é demais". E mal sabe ele o quanto lhe sou grato por me ter dito isso um dia. Não me lembro mais o contexto específico, mas o sentido, sim. Aquele foi um ensinamento desses mais potentes do que os que se aprendem em aulas formais. Pratico sempre e espero que minhas filhas e meus alunos levem adiante esta prática.

Aliás, motivos para agradecer (coisas agradáveis, de bom grado) não me faltam. Como sempre faço questão de dizer: Deus é bom demais para comigo, me dá muito mais do que mereço. Só o fato de ter minhas filhas já é motivo para milhões de gerações de mim mesmo se ajoelharem e, na pulsação do coração, dizerem infinitamente: obrigado, obrigado, obrigado, obrigado...

Poder fazer o bem, simplesmente por fazer; poder auxiliar alguém e vê-lo progredir em seus projetos - dos mais simples como o acesso a algo, aos mais complexos como continuar querendo viver; poder compartilhar o tempo, a atenção, o riso e o choro, a raiva e a alegria... enfim, poder "con-viver", viver e deixar viver é algo pelo que se deve agradecer ao Bom e Eterno a cada pulsar do coração.

sábado, 12 de outubro de 2013

Coração de criança

"Eu sei como pisar no coração de uma mulher. Já fui mulher, eu sei. Já fui mulher, eu sei", são versos de Chico Cesar, na música Mulher eu Sei (http://letras.mus.br/chico-cesar/45198/) - uma daquelas muitas músicas que, além da qualidade melódica e harmônica, parecem abraçar a gente pra dizer coisas contundentes no ouvido. E tem coisas que, mesmo ditas de um modo, se fazem entender de outro.

Hoje, no dia das crianças, madruguei com esses versos me dizendo algo diferente do que está escrito e cantado. Ele se refere a saber pisar no coração de uma mulher. Toda mulher já foi criança. E fico aqui pensando se há quem saiba pisar no coração de uma criança. Não deve haver crueldade maior, razão pela qual fico aqui querendo um daqueles instrumentos do Matrix para apagar registros de memória. Sim, eu usaria para apagar conhecimentos relativos a qualquer tipo de mau trato a crianças.

E não me refiro aqui apenas a maus tratos físicos, que esses são repugnantes e dignos da maior punição que houver, sem dó nem piedade. Maltratar psicologicamente - seja de maneira consciente ou não - toda forma de opressão, toda ameaça, toda privação, toda enganação deve ser condenada à inexistência. À criança, apenas aquilo que vá tornando-as pessoas melhores a cada dia.

Penso aqui também não apenas nas crianças que vemos correr por aí, que vemos brincar por ali, que vemos brilhar a seu modo e a seu tempo; penso, sim, na criança que existe em cada um de nós. Na criança que, sob a roupagem de adulto, quer continuar tendo espaço e tempo para brilhar, formas e liberdade de brincar, para crescer com um coração cheio de alegria, distante de qualquer solado de adulto. 


sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Essa estupidez

"Sua estupidez não lhe deixa ver que eu te amo. Quantas vezes eu tentei falar que no mundo não há mais lugar pra quem toma decisões sem pensar", cantava Roberto Carlos nos anos 70, quando eu ainda era uma criança e tinha acabado de vir morar em São Paulo. Exaustivamente tocada nas rádios da época, a
música é Sua Estupidez, http://letras.mus.br/roberto-carlos/48685/, e tem a verve normal daquela geração Jovem Guarda e com os arranjos musicais muito bem criados, entre um instrumental e um pop.

A música, em si, trata de uma pessoa que realmente não percebe que uma outra a ama tanto, que acredita na possibilidade de agir para que ambos possam se unir e construir uma história interessante e vivificadora das duas partes. Parece-me que o foco está "no lado de lá", isto é, no lado de quem não quer receber o amor do outro. Claro que este "outro", por frustração e ferimento na alma, pode se dar o direito de considerar tal atitude uma estupidez. Ou de considerar estúpida a pessoa que a nega.

Será a mesma estupidez aquela que impede alguém de se permitir amar? O Humanitismo de Quincas Borba (personagem de Machado de Assis), o Yin Yang e tantas outras maneiras de ver o mundo afirmam que as coisas não são díspares, contrárias entre si, irreconciliáveis, mas muitas vezes constituem parte de uma mesma realidade, como se fossem dois lados de  uma mesma moeda. Ambos os lados contribuem para a   constituição do valor da moeda.

Claro que, em primeira instância, estúpido é uma característica de quem é desprovido de inteligência, alguém que age sem discernimento. Vale acrescentar aqui que estupidez também significa falta de sensibilidade. É... eu não hesitaria em dizer que, quando se juntam a insensibilidade com a ignorância, dá como resultado a estupidez. E a estupidez faz a gente (do lado de lá ou do lado de cá) deixar de ver coisas sublimes, presentes e futuras.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Simples alegrias

"Não é preciso mais do que uma simples alegria para me aquietar o espírito" é um dos versos de Osvaldo Montenegro no poema Metade (http://letras.mus.br/oswaldo-montenegro/72954/) - sem dúvida um dos mais bonitos poemas que já li, especialmente naquele que foi um dos momentos mais áridos que já enfrentei. O poema fala do todo e fala da metade, de um mosaico de metades que vão se unindo a outras metades, num jogo em que as coisas vão se complementando, até o verso final: "...porque metade de mim é amor; e a outra metade...também".

No dia absolutamente corrido que temos, é preciso estar de olhos bem abertos, bem abertos mesmo para poder olhar com muito carinho alguns pequenos momentos, algumas pequenas alegrias que vêm em meio a um turbilhão de afazeres, de compromissos, de papéis, de assinaturas, de trajetos e de reuniões, de telefonemas e relatórios, de algumas frustrações, de tantas coisas normais e de algumas pequenas alegrias.

E são justamente essas pequenas alegrias que estão penduradas no abraço de um amigo, ou no bom dia de alguém que não tem o hábito de fazê-lo, ou que, pelo menos, não temos o hábito de observá-lo fazer. Pequenas alegrias que estão em singelos agradecimentos ou em minúsculas e desinteressadas atitudes reveladoras de grade respeito e consideração.

Aquietam o espírito algumas pequenas alegrias presentes em um carinho de filho, em um sorriso de mãe, em um apoio de pai. Pequenas alegrias que estão em nós mesmos, na rejeição a um alimento tentador mas pouco recomendável, na execução de um exercício naquela série que fatalmente seria vencida pelo cansaço. Tênues sinais de satisfação que percebemos brotar em nós com resultado de um sentimento por estar realizado. Simples alegrias que aquietam o espírito.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Filhos e fãs

"E nos seus olhos era tanto brilho, que, mais que seu filho, eu virei seu fã". Putz! Como cantei esses versos que ficaram conhecidos na voz exemplar de Nelson Gonçalves (http://letras.mus.br/nelson-goncalves/47663/), que a gente não se cansava de ouvir. Forte, afinada e carregada de trejeitos daqueles cantores (hoje considerados) antigos, como Ataulfo Alves, Cauby Peixoto, Agnaldo Raiol, entre tantos outros. É muito bom poder ser fã de alguém tão próximo da gente, como pai ou como filho.

Eu que o diga: não sei o que é conviver com um pai desde os meus 4 ou 5 anos. Não tive a oportunidade, portanto, de refletir com meu pai, de discutir, de discordar, de dar meu braço a torcer numa conversa com ele. Se tive, não guardo recordação. Se tive, a suposta reflexão ou discussão não teve, certamente, o refinamento a que me refiro. Lógico: eu adoraria ter tido.

É engraçado como hoje muitos pais há que não têm essa discussão com os filhos na busca de desenvolver, aprimorar ou ajustar uma ideia, seja lá sobre o que for. Longe, muito, mas muito longe de querer generalizar irresponsavelmente, mas há muitos pais e mães que, mesmo tendo oportunidade para tal, não se dão ao luxo de promover diálogos, discussões, reflexões. Antes, atendem os pontos de vista de seus filhos que, muitas vezes, sequer argumentam. Dizem o que acham, o que querem, o que pensam. E ponto.

Graças a Deus, tenho com minhas meninas (ou penso ter) muitas oportunidades de discutirmos, de divergirmos, de negociarmos, de colocarmos uns para os outros os nossos pontos de vista sobre qualquer coisa. Dessa forma, promovemos uma mútua possibilidade de crescimento que traz para os nossos olhos tanto brilho, que, mais do que filhas e pai, somos fãs uns dos outros. 

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Plus a mais

"Só se conformemo depois que o Joca falou: Deus dá o frio conforme o cobertor", cantam os Demônios da Garoa a inesquecível Saudosa Maloca (http://letras.mus.br/adoniran-barbosa/43969/), com a voz inconfundível e sotaque ímpar de Adoniran Barbosa, falecido há alguns anos. Claro que suas músicas têm um quê de engraçado, um quê de romântico, um quê de crítica social - tudo visto com muita naturalidade.

Esses versos, que eu sempre cantava prestando atenção na letra, me atraíam o ouvido para a parte proverbial do verso "Deus dá o frio conforme o cobertor". Mas hoje, a outra parte deles é que brilhou para meus ouvidos. Foi em uma apresentação singular que a escola preparou para nós hoje, a fim de comemorar o Dia dos Professores, que ocorrerá na próxima semana. Elogiável a atitude do Colégio - com certeza, uma deferência gigantesca para presentear seu corpo docente.

Cantei quase todas as músicas e, ao cantar esta, me deparei olhando para a primeira parte do verso: "Só se conformemo...". E pude notar o quanto, por mais simples que ela seja, uma fala de conforto em meio a um momento de insuportável desilusão, pode dar ao corpo - à mente e ao coração - a força necessária para aguentar um pouco mais, na esperança de que a situação se resolva favoravelmente. Um analgésico, um antibiótico, um posto de combustível em meio a uma infinita estrada erma.

Com toda certeza, uma sobrevida. Um "levanta-sacode-a-poeira-e-dá-a-volta-por-cima". Uns minutos a mais para respirar sob a água. Enfim, a capacidade de nos conformar - desde que não vire conformismo à situação - é um alento, é aquele momento "plus a mais" em que o herói dos filmes de aventura toma, depois de levar infinitas pancadas, e, com uma força encontrada sabe Deus onde, parte para cima do adversário para lhe dar o golpe final.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Per - missão do tempo

"O tempo passou na janela e só Carolina não viu". É um verso da música Carolina (http://letras.mus.br/chico-buarque/45122/), do Chico Buarque, a qual retrata o fato de alguém perder as mudanças que se dão no mundo (pessoal e social), alguém que perde tempo mantendo seu olhar, sua atenção em coisas que (para muita gente) não são essenciais.

Não sei o quê. Mas tem gente que não consegue resumir um texto, por exemplo, porque não vê diferença entre o que é essencial e o que é acessório. Tem gente que não consegue dizer algo com objetividade, porque tem necessidade de dizer tintim por tintim. Tem gente que não consegue aproveitar o essencial das relações humanas, porque está submersa nas relações de trabalho. Tem gente que não enxerga as coisas simples, de tão compenetrada que está no estudo das coisas complexas.

Tempo também se perde. E, diferentemente de muitas outras coisas na vida, tempo não se recupera. Aprendi isso lendo O Profeta e, apesar da simplicidade da aprendizagem, este é para mim um ensinamento absolutamente significativo. Para se "recuperar" um tempo, é necessário tirá-lo de outro lugar. Logo, não se recupera, apenas se transfere o lugar da perda.

O tempo com os filhos talvez seja um dos que mais devamos aproveitar. Com demais familiares, idem. Com amigos, sempre. Com a gente mesmo, todo dia. Se se trata de festa, de diversão, de reunião, de lazer, de esporte, de simples bate-papo... não importa. Importa que o tempo investido com as relações humanas é tempo que a gente não vê passar, de tão rápido que passa em razão de ser tão bom! Como o tempo não pede permissão para passar, é preciso estar atento ao modo como o vemos passar.

domingo, 6 de outubro de 2013

Quem policia?

"Dizem que ela existe pra ajudar. Dizem que ela existe pra proteger. Eu sei que ela pode te parar. Eu sei que ela pode te prender", canta Paulo Miklos http://letras.mus.br/titas/48993/, pelo Titãs das épocas áureas em que essa banda paulista sacudia o país com seus rocks de letra forte, que balançavam a mente, e aquela pegada interessante, que balançava o corpo. Era, emblemática (e engraçada) a dança do Arnaldo Antunes.

Engraçado e emblemático também é, muitas vezes, o que vemos da polícia, criticada nessa música. Desde já é preciso fazer uma distinção aqui. Como em toda profissão, há profissionais e profissionais - como se diz. Com os policiais não é diferente. Do mesmo modo que existem aqueles que exercem dignamente o seu papel na proteção ao cidadão, também há aqueles que se valem de suas prerrogativas para tirar proveito de situações e se beneficiar.

Notícias há de policiais que matam inocentes - como naquele conto "À noite todos os gatos são pardos". Não é incomum vermos reportagens sobre envolvimento de policiais em esquemas de desvio ou lavagem de dinheiro. A mais hilária notícia que vi foi a de policiais do departamento de narcóticos serem flagrados como parte de um grande esquema de tráfico de drogas pesadas.

Mas tudo isso é coisa grande, que a imprensa noticia (e graças a Deus e aos bons tempos, ela pode noticiar, pois já houve época em que a polícia proibia esse tipo de informação). Há coisas pequenas que só o cidadão comum sabe, como passar horas em uma delegacia para fazer boletim de ocorrência e, mesmo sendo a única pessoa a ser atendida, não poder se valer disso, apesar de haver diversos "profissionais" ocupados em conversar, tomar café e cuidar de outras coisas, que não o seu dever. "Polícia para quem precisa".

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Gosto

"Românticos são tipos populares que vivem pelos bares e mesmo certos vão pedir perdão. Que passam a noite em claro, conhecem o gosto raro de amar sem medo de outra desilusão ". Conheci esses versos na voz de Rita Ribeiro. Só depois fui saber que era de um poeta mineiro de que gosto muito: Vander Lee - que já citei aqui algumas vezes também.

Esse parágrafo introdutório tem tanta coisa pra ser explorada, que me recuso a tratar de uma só vez. E está mesmo cheio de gente por aí, no gosto do povo e no povo do gosto - gente que, de bom gosto ou não, consegue estar a disposição de todos; gente que consegue fazer com que o outro sinta-se mais a si mesmo; gente que não se preocupa - antes, se alegra - mais em dar de si a outro do que receber do outro para si.

"Pode até parecer fraqueza", como canta Lulu Santos, mas se trata de uma fraqueza que fortalece esse tipo de gente romântica. Parece ainda mais quando alguém é surpreendido por um pedido de desculpas, mesmo sabendo que aquele que se desculpa não é aquele que deveria pedir desculpas. É assim com românticos: mesmo estando certos, vão pedir perdão. Importam-se mais com serem felizes do que com terem razão.

"Pois que seja fraqueza então (continuaria Lulu Santos). A alegria que me dá... isso vai sem eu dizer", porque aí está a maior fortaleza do romântico: o cara ama, ainda que dê errado. Ama. Tem a capacidade de "amar sem medo de outra desilusão". Tal como Vinícius, ama como se fosse infinito o amor enquanto este durasse. Quem me dera.


quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Vi não vendo

"E eu sinto tudo na ferida viva do meu coração". Da música Como Nossos Pais, de Belchior, este é um verso que já citei aqui, mas para falar a partir do verso que vem logo depois dele ("vejo vir vindo no vento o cheiro da nova estação"). Hoje, não. Hoje quero falar desse início mesmo, em razão de uma experiência muito especial vivida nesta noite.

Havia me programado para assistir mais uma vez ao espetáculo que minhas filhas apresentam com o grupo de teatro do Colégio. Sim, eu sei: já vi. Mas verei tantas vezes quantas forem possíveis. A qualidade de texto, de música, de movimento etc. é altíssima. No entanto, ontem no final da tarde, fui praticamente intimado por uma professora de ballet a assistir ao espetáculo da alunas dela. Veio com deferência e insistência o convite. Fui assistir de bom grado, mesmo abrindo mão de ver a peça das minhas filhas.

Quando cheguei pontualmente para ver a apresentação de ballet, pude contemplar o que meus olhos apreciam muito: um bom número de música e dança num ballet sincronizado e interpretado por crianças. E gosto não por ser ballet nem por ser criança. Mas por ter sido esta a primeira forma de expressão artística que vi minhas filhas fazerem. Desde seus três aninhos já frequentavam palcos representando, dançando. Foi difícil não me emocionar vendo aquelas criancinhas, em passos tão complexos para sua idade.

Não tive como não me lembrar de minhas filhas. E junto com essa lembrança, receber também a ação da memória emocional que me fazia rever, na imagem daquelas crianças, a imagem das minhas filhas dançando. O que eu via e o que eu sentia à época inundaram o que era eu nesta noite. Há 8 ou 9 anos, tudo era muito diferente. Ao ver minhas filhas sem estar vendo cada uma delas, também vi minha vida de 8 ou 9 anos atrás. Visitado pela saudade, quis abraçá-las pra que fosse abraçado meu coração que sente tudo.


terça-feira, 1 de outubro de 2013

Indignação legítima e seu valor

"Você era a mais bonita das cabrochas dessa ala. Você era a favorita onde eu era mestre-sala. Hoje a gente nem se fala, mas a festa continua. Suas noites hoje são de gala, nosso samba ainda é na rua"... como não nos motivar ao ouvir versos tão bem construídos na rima, no ritmo, no conteúdo dito, nos múltiplos sentidos criados, sempre que ouvimos Chico Buarque? Quem te viu, quem te vê...

Esses versos me vêm hoje em razão de uma reflexão que até já havia passado pela minha cabeça e até com alguma frequência, mas não e nunca com a mesma veemência com que ouvi de minha filha hoje. Ela estava sentada me esperando chegar para buscá-la e levá-la para casa, como sempre acontece. [Sim, sim, tenho o privilégio (como disse ontem) de poder estar com minhas filhas todos os dias.] Tudo normal, até que uma cena lhe chama a atenção e lhe arranca do peito a mais legitima indignação.

Um rapaz uniformizado passava por ali onde ela estava a me esperar. Com a maior das naturalidades, como se estivesse fazendo o que era mais trivial na vida, o rapaz vinha recolhendo o conteúdo depositado nos tambores de lixo. Cada um com uma cor destinada à identificação do tipo de lixo a ser jogado ali. No entanto, depois de sacar todo o conteúdo de cada tambor, o rapaz os depositava em um tambor comum, anulando completamente a anterior separação que se havia feito com vistas à reciclagem do material.

Indignada, mas sem preder o respeito, minha filha foi questionar o rapaz acerca da atitude. Ouviu dele que era muito caro reciclar, então, tinha ordens para fazer o que fazia. Minha filha entendeu a posição profissional do rapaz, mas a indignação subiu-lhe até o último fio de cabelo (e olha que ela tem muitos!!!). Ela se questionava veementemente sobre a razão de se criar uma aparência de ecologicamente correto e se praticar exatamente o oposto. "Quem te viu, quem te vê...". Claro que, em sua ação cidadã, ela foi procurar os responsáveis. Meu coração foi para além da indignação dela e se orgulhou muito, mas muto mesmo, dos valores que ela está demonstrando com essa atitude.