"É só o que eu pedia: um dia pra aplacar minha agonia, toda a sangria, todo o veneno de um pequeno dia", uma música excepcional do Chico, chamada Basta um Dia. A música fala do pedido que alguém faz para que possa mudar algumas coisas na própria vida - senão a própria vida: "só mais um dia, um meio dia, e eu faço desatar toda a minha fantasia".
Hoje começa o período de férias para quem trabalha com escola, especialmente para os professores. 30 dias. Ora, se o eu-lírico na música acima pede apenas "um dia, um meio dia" para mudar o que fosse preciso em sua vida, o que faria se tivesse 30 dias. Numa das conversas que tive esta semana, ouvi a frase: como seria bom se a gente pudesse tirar férias da gente mesmo por um dia...
Quem estava por perto (eu, inclusive) concordou rapidamente, sem pestanejar, como se se tratasse de um negócio assim, simples. Tudo bem que quem falou provavelmente tenha dado pouca importância para a possibilidade de efetivar o que foi proposto. Mas é importante darmos às palavras o alcance que podem ter efetivamente. Pode ser inquietante perguntar o que faria uma pessoa que tirasse férias de si mesma.
Ela poderia apagar a si mesma em sono ou em desmaio ou numa catalepsia. Poderia se dar uma violenta dose de remédio que a tirasse deste mundo por um dia. Poucas atitudes me parecem mais egoístas do que essa, afinal, a gente só existe no trato com o outro. Mudar coisas na gente implica mudar nos outros. Seja por um ou por 30 dias, tirar férias da gente significa tirar também dos outros. Por mais que seja por apenas um dia. Talvez esse dia, literalmente exclusivo, nunca venha a existir. Por isso, se quisermos mudar algo na gente ou mudar a gente, vai ter de ser no dia de todo mundo.