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sexta-feira, 31 de maio de 2013

Bondade e Ruindade

"Deus me proteja de mim, a maldade de gente boa e da bondade de gente ruim", canta Chico César, esse excepcional músico, letrista e figura carimbada de show. Sim, carimbada, porque seu visual é - até onde sei - ímpar, singular: cabeleira vasta, nariz avantajado para os lados e cravado com piercing, imagem que se cola num sotaque tipicamente nordestino de Catolé do Rocha. Uma imagem boa e ruim.

Taí um cara que buscou seu caminho e, depois de passar por muita coisa, trabalhar em revista, foi se firmar como músico. Certamente enfrentou todo tipo de gente (inclusive a si mesmo): gente boa e gente ruim. É muito curioso e, ao mesmo tempo, inquietante ser lembrado subitamente de que as pessoas (consideradas) boas podem deixar vir à tona aquilo que está nelas mas que não é explicitado: aquilo que têm de ruim. Imagino que quando isso vem à tona deva vir com uma força tal, que é melhor não estar na frente, é melhor não ser o alvo da ruindade içada à luz.

Vinda à luz, por outro lado, a bondade de gente (considerada) ruim também deve ser algo que beira o assustador e o deixa sem eira nem beira, uma vez que pode estar escondendo um mal muito maior sob a aparência da bondade içada à luz. É claro que acredito ser possível pessoas (consideradas) ruins praticarem coisas boas. Não nego isso, mas fico com um pé atrás. Um e meio.

Agora, mais do que sermos protegidos da maldade de gente boa e da bondade de gente ruim, é preciso que sejamos protegidos de nós mesmos. Meu Deus! Quanto precisamos crescer no conhecimento de nós mesmos e do mundo que nos cerca, das pessoas que nos cercam, de tudo que está acerca. De tudo que somos. Nós, eternos desconhecidos de nós mesmos guardamos em nós (além de nós mesmos) a bondade e a ruindade.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Universo e Pluriverso

"Quando o segundo sol chegar para realinhar a órbita dos planetas, derrubando com o assombro exemplar o que os astrônomos diriam se tratar de um novo cometa...", canta Nando Reis, uma música que também ficou conhecida na voz de Cássia Eller: o segundo sol. Quantos sóis deve haver. Que tamanho tem o universo?

Não é novidade para ninguém o fato de que há outros sistemas solares para além do nosso. Também não constitui novidade para pessoa alguma a existência de um sol muitas (mas muitas, muitas mesmo) vezes maiores que o nosso sol - que já é enorme, nossa maior estrela, que ferve a milhares de graus. Imagino o que será esse outro sol. Ninguém mais desconhece a descoberta de água na lua, em Marte e em tantos outros lugares.

Há poucos dias a Nasa anunciou a existência de planetas habitáveis, pelo fato de terem condições de vida semelhantes às que temos na Terra. Outro dia, postei uma fotografia no Face mostrando uma conjunção tal, que permitia a visualização, de uma só vez, de três planetas: Mercúrio, Vênus e Júpiter. Coisa rara de se ver. Obras deste (neste) nosso universo tão imenso, tão desconhecido, tão cheio de surpresas.

Surpresas nada. Essas coisas sempre estiveram aí. Ou melhor: lá. Nós é que demoramos descobrir. Nós é que não tivermos competência ou recursos suficientes para dar aos nossos pobres olhos a condição necessária para ver. Às vezes acho que a gente também é um universo a descobrir, uma coisa enorme, especialmente do ponto de vista psíquico, emocional, cognitivo... Outras vezes, acho que a gente é uma minúscula fração de uma micromatéria reduzida à sua milionésima parte no meio dessa vastidão que é o nosso Universo.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Antitéticos barrocos pessoais...

"Onde queres descanso, sou desejo. E onde sou só desejo, queres não. E onde queres nada, nada falta. E onde voas bem alto, eu sou o chão. E onde pisas o chão, minha alma salta e ganha liberdade na amplidão". Quem desconhece isso? Pode haver quem não pensou sobre isso, mas poucos são os que desconhecem "O Quereres", de Caetano.

É muito curioso, para dizer o mínimo, como dentro de nós mesmos os desejos, os pensamentos são tão díspares, tão desencontrados, tão instáveis. Imagino a força imensa que nós fazemos, e os muitos instrumentos que utilizamos para estabilizar tudo isso e dar à nossa vida cotidiana um ar de coerência em meio a essa tempestade de quereres.

A gente deve ser pouco normal. Ou normalizado demais. Sei não. Por que tem o outro lado também. O do outro. Pode ser que um esteja numa pletora de desejos, sonhos, planos etc. (...) e outro esteja numa escassez de sensibilidade, de sintonia, de harmonia. Ou melhor, para usar a palavra em sua acepção, numa escassez de simpatia.

Daí "o quereres". Porque "a vida é real e de viés". "Infinitivamente pessoal".


segunda-feira, 27 de maio de 2013

Everybody needs sometimes

Ouço agora "November rain", do Guns. Música de sua época áurea, quando emplacava um sucesso atrás do outro, tocado e cantado por toda a gente de todo mundo. Independentemente de seu histórico de drogado e de armador de confusões homéricas, admiro o potencial artístico de Axl Rose. Seu trabalho vocal para cantar naquele nível e naquela intensidade é admirável. Não me esqueço de quando, numa cerimônia dessas grandes (Oscar, Grammy, sei lá), ele tocou piano e cantou muito. Mostrou ser mais do que um simples vocalista de banda rebelde. Mas seu ciclo deu uma fechada, e agora, busca outras paragens.

Talvez o verso dessa música que mais mexa comigo seja o "nothing lasts forever", que já utilizei para introduzir reflexão aqui no Sempreever. Mas hoje, quero me valer de outro verso: "don't you think that you need somebody? Everybody needs somebody". E é nessas aberturas e fechamentos de ciclo que essa verdade vem à tona, seja para servir de esteio para o momento em que a gente acha que não vai aguentar o fim do ciclo, seja para servir de companhia na celebração da abertura do ciclo novo.

Mas a gente sempre precisa de gente. A gente sempre precisa da gente. Envelhecendo ou remoçando. Porque a vida inteira é composta por gente que está em um ou em outro polo. E a gente no meio: saindo de um e entrando no outro. Apoiando os que estão lá. Saudando os que estão cá. Dando a mão para os que estão iniciando. Recebendo a mão dos que já não são inciantes.

E, assim, a gente vai. A gente segue assim. Everybody needs somebody. Eu acrescentaria que everybody needs sometimes. Isso porque nothing e nobody lasts forever. Ciclos se fecham, ciclos se abrem. Pessoas se fecham, pessoas se abrem. E bem assim a gente vai por paragens, ora menos ora mais novas.

sábado, 25 de maio de 2013

A vontade de treinar e a de vencer

"Não se ofenda com meus amores de antes. Todos tornaram-se pontes pra que eu chegasse a você". Versos de Jorge Vercilo (sobre quem já me manifestei aqui), na música Monalisa. Gosto da metáfora da construção presente nesses versos. Ele me faz enxergar o processo constitutivo de cada coisa, de cada realidade... de cada um de nós.

Ontem escrevi aqui a respeito da apresentação que nossa banda iria fazer na abertura do Festival Champagnat hoje pela manhã. Por se tratar de um evento grande, talvez o mais expressivo da Escola, na medida em que envolve todos os alunos - o que se intensifica na abertura do Evento, quando estão todos, todos, reunidos em um só lugar. E, além deles, assistentes, coordenadores, diretores... quer dizer: tocar em um Evento desse é de uma responsabilidade muito grande.

Se, por um lado, é interessante analisar a confiança da Escola no nosso trabalho, por confiar todos à nossa responsabilidade (ainda que por meia hora); por outro lado, é pertinente observar o nosso comprometimento com aquela situação - o que nos levou a nos preparar responsavelmente para oferecer à comunidade toda uma apresentação de qualidade, à altura das expectativas depositadas em nós, tanto pelo corpo diretivo, quanto pelos cerca de dois mil alunos que nos assistiram.

Aí reside minha questão de hoje. A nossa apresentação não começou ali no palco às 11h30, mas muito, muito antes: desde a escolha da gente para tocar, passando pela seleção de repertório, pelo treino sozinho em casa, pelas muitas horas de ensaio no estúdio... tudo isso tornou-se uma grande ponte para que chegássemos com segurança e tocássemos as músicas. Nossa dedicação prévia me lembrou uma frase do livro do Bernardinho (técnico da seleção de vôlei): "A vontade de treinar tem de ser maior que a de vencer". 

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Come Together

"O tom em que eu canto minhas música pra tua voz parece exato" é um verso da música All Star, do Nando Reis. Taí um cara cujas composições me agradam muito, um sujeito que eu admiro pela coragem que tem pra cantar. Já vi shows dele, e é fato: seja no estúdio seja no palco, à sua voz parece faltar tônus, força. Mas isso não o impede de cantar. Todo mundo sabe que eu não tenho essa coragem. E sabe também que não tenho receio algum em tocar.

Daqui a pouco - afinal é madrugada da quinta para a sexta, já beirando às 2h - nossa banda vai tocar na abertura do Festival Champagnat, um evento bem grande, cuja organização envolve muita gente e que vai reunir algo em torno de 2mil pessoas. Vamos tocar na abertura. Entre nacionais e importadas, a seleção de músicas é um pouco a cara de cada um da banda.

Formada há pouquíssimo tempo, fizemos 3 ensaios de 3 horas e uma passagem de som, já no local, de meia hora. Em todos esses momentos a identificação entre todos nós, a cumplicidade no querer tocar e cantar da melhor maneira possível, a responsabilidade de estudar as músicas e a felicidade em reproduzi-las são coisas que saltam dos nossos olhos, das nossas mãos quando tocamos, bem como das vozes que cantam.

A alegria com que vamos tocar me dá a impressão do que disse o Nando Reis, no verso que citei acima. Sim, tenho a impressão de que as músicas que vamos tocar parecem exatas para os ouvidos de quem estará ali para prestigiar a abertura do evento. Tenho certeza de que será bom, porque o processo que nos trouxe até aqui nos dá essa segurança de fazer as músicas com gosto, com alegria, com vontade mesmo de fazer algo bom, na sintonia do que representa o Festival. Vamos ver. E ouvir! (A propósito: a primeira música que vamos tocar é "Come Together", Beatles)

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Gotas galhos ventos ciscos

"Já lhe dei meu corpo, minha alegria. Já estanquei meu sangue quando fervia. Olha a voz que me resta, olha a veia que salta, olha gota que falta pro desfecho da festa. Por favor, deixe em paz meu coração: ele é um pote até aqui de mágoa. E, qualquer desatenção, faça não: pode ser a gota d'água". Precisa dizer muito, não. Afinal, é Chico. Ele vem, inteiro nessa canção, para ilustrar uma metáfora.

Todo o dia de todos os dias ela está ali, plantada, fincada, em um movimento parado, de inércia e dinâmica, de ação e inação. Mas está ali. De livre e espontânea vontade, dali ela não sairá. Passam ventos, tempestades, sóis e luas, garoas e dilúvios. E ela está lá, frondosa, cumprindo seu papel de dar sombra e fruto, de beber seiva e absorver gás carbônico, de reduzir a erosão e aumentar a fertilidade do solo.

Está ali, pro que der e vier. Querem subir nela? Que subam. Querem colher seus frutos? Que colham. Querem descansar sob sua copa? Que descansem. Querem desenhar nela um coração? Que desenhem. Querem pendurar uma corda nela? Que pendurem. Querem-lhe podar um galho? Que podem. Porque podem. Mas, "tem sempre um dia em que a casa cai" - como cantava Vinícius.

Daí, é como a gota d'água, que canta o Chico. O que sobe nela pode cair. O que colhe e come seus frutos pode engasgar. Os que descansam em sua sombra podem ser assombrados por pesadelos. Os que desenham nela podem ter uma farpa em seus dedos. Os que lhe penduram uma corda podem acabar enredados. Os que lhe podam um galho podem ser, eles mesmos, podados. É... tem dia que o vendo que penteia as folhas da árvore pode ser o mesmo que arremessa um cisco no olho de quem está perto.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Alegria e dor do futebol

"Parece que falta um pedaço de mim" é um verso que vou tomar hoje aqui completamente fora de seu contexto. E vou fazê-lo não pela música em si, lindíssima, por sinal (ainda mais na voz da Elba), mas por ser o que estou sentindo hoje desde que voltei para casa à tarde.

Era domingo de manhã. Nem sol, nem chuva. Nem calor nem frio. Uma temperatura super agradável para se jogar futebol. Claro que a esperança era jogar no campão, que tem dimensões oficiais e, com aquelas marcações na grama e aquela rede branquinha esperando que a bola seja chutada na diversas vezes, convida a gente para desfrutar do prazer que é jogar futebol. Mas não havia número suficiente para ocupara o campão: só 14 pessoas. Assim sendo, fomos para o campinho.

Aí, sim, começou o jogo, uma das coisas que mais gosto de fazer nesta vida. Como aquilo é bom! Jogar futebol é, para mim, bem delirantemente, uma metáfora da vida cotidiana. Se que quando entro no campo, integro uma equipe que tem 90 minutos para superar os adversários e sair do campo com a vitória. Ou, se falhar mais que o adversário, sair de campo com a derrota. Isso pouco importa (já que não disputamos campeonato): o que importa fazer parte das ações do jogo.

Mas hoje não deu para concluir o jogo. Logo no começo, torci o pé meio violentamente. Tanto, que, de longe, escutou-se um estalo que deu até medo de fratura. O pé fez um L no chão, de modo que o tornozelo tocou a grama enquanto eu estava em pé. Resultado: estiramento ligamentar. É... parece que falta um pedaço de mim.

domingo, 19 de maio de 2013

Tem tanto sentimento

"Tem tanto sentimento; deve ter algum que sirva", canta Arnaldo Antunes naquela canção em que pede socorro por não estar sentindo nada: "nem medo, nem calor, nem fogo - não vai dar mais pra chorar nem pra rir". Engraçado é que tem hora que a gente sente tudo isso ao mesmo tempo e não sabe o que fazer. Talvez nem saiba se é pra fazer.

Melhor assim, pois, como Lobão cantava: é melhor viver dez anos a 1000 do que mil anos a 10. Mas o fato de ser melhor assim, não significa necessariamente que viver dessa maneira seja O MELHOR. Daí, dois pensamentos me abraçam o raciocínio agora. Se, por um lado, é melhor viver um sentimento profundamente, por outro, pode ser melhor ter o maior número possível de sentimentos.

Lembro (até pela minha época de intensos estudos teológicos) de uma frase de Paulo, o apóstolo, segundo a qual a gente deve provar de tudo e reter o que for bom. Não sei, mas isso me parece um conselho a viver os 10 anos a mil até encontrar um ponto em que a melhor coisa seja dedicar-se a um sentimento só e, a partir daí, viver mil anos a 10.

E nesse acelerar e desacelerar, dentro do parco prazo de vida que a gente tem, a busca segue por encontrar um sentimento, "algum que sirva", algum que faça valer a pena viver mil anos a 10 por hora. O que não posso e não quero é deixar de ter vontade de chorar nem de rir. Cada um sabe em que ponto está desta corrida. Sabe também em que velocidade. Afinal, tem tanto sentimento...

sexta-feira, 17 de maio de 2013

De asfaltos e colchões

Voltava pra casa hoje, depois de um dia muito legal de trabalho, pensando nas coisas, no dia, no que escreveria no Blog, pensando um monte de coisas, como faz qualquer cabeça vitimada pelo cansaço do dia e motivada pelos desafios do dia seguinte. Pressionei o botão que abre o portão automático e esperei que ele abrisse. Lento como sempre.

Não lembro a música que eu cantava (sim, no carro e sozinho, eu canto que é uma beleza), mas me lembro bem de uma cena que está gravada na minha memória até agora. À minha esquerda, de calças bege, camisa branca e uma malha azul claro por cima, um velhinho parava sua caminhada e olhava o mundo com a calma que banha a todos os mais experientes e felizes seres humanos.

Aquela parada dele, lenta, mais lenta que o portão que àquela altura já estava todo aberto, me transportou para um mundo em que vivem as sensações mais epifânicas possíveis. Quem já andou muitos asfaltos neste mundo, quem já dormiu vários colchões, quem já comemorou tantos invernos e tantos verões, tem a sabedoria de parar a caminhada no momento que for mais pertinente. Isso porque sabe que vai chegar. Isso porque sabe aonde está indo. Isso porque tem a tranquilidade e a certeza de que sua rota será inteiramente traçada, independentemente do tempo que isso demandar.

Fui içado do meu devaneio epifânico pelo barulho do portão que, lentamente, começava a se fechar. Com o susto, acelerei o carro e adentrei a garagem correndo o risco de ter danificado o carro e o portão. Se eu tivesse a sabedoria daquele velhinho, teria parado meu movimento e reacionado o portão para que ele abrisse novamente. Afinal, eu sabia para onde ia, sabia que chegaria, sabia tudo isso. O que me falta mesmo é asfalto para andar mais, é colchão para dormir mais. Falta experiência.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

A porta

"Meu coração bate sem saber que meu peito é uma porta que ninguém vai atender" é um verso de Arnaldo Antunes, que foi utilizado por um grande amigo meu, que tem espaço garantido aqui no Sempreever. Depois de muito tempo distante, FG voltou à nossa cena por meio de um telefonema e nos deu o ar de sua graça. Embora eu tenha ficado muito contente com sua ligação - porque é sempre bom o contato dos e com os amigos - algo me incomodou em sua fala.

Aquele verso que ele citou com insistência para apoiar várias de suas falas escondia uma insatisfação, uma angústia velada, clamando por ser revelada. Daquelas iguais a quando a gente olha a superfície límpida da água e vê, lá no fundo, bem no fundo, algumas impurezas depositadas no solo. Ou então como aquela corda de violão, aquela que entre as seis insiste em soar desafinada e que, por conseguinte, só um ouvido apurado consegue perceber.

Dizia ele que nesse tempo curto em que está viajando já teve o prazer de conhecer uma moça que o encantou e pela qual se viu encantado. Era tudo muito claro: os sinais que ela lhe dava e os que ele dava a ela eram, segundo sua percepção, evidentes marcas de concordância, de paixão pueril, adolescente: avassaladora, incrivelmente poderosa e simultaneamente dócil e promotora de uma sensação de vida a brotar em meio às pedras secas que dormem nos terrenos mais áridos.

Mas ele optou por não satisfazer o desejo de seu coração: ter alguém com quem compartilhar os mais simples e os mais complexos momentos da vida, dividir os planos mais corriqueiros (como o que comprar no mercado) aos mais sofisticados (como viagens, construção de um lar...). Isso porque, infelizmente, muito infelizmente, ele deu ouvidos àquele verso, segundo o qual, o coração dele insiste em bater na porta de seu peito.  E o faz todos os dias sem saber que aquela porta não pode ser aberta por alguém. A questão que fiz a FG foi: quem pode abrir essa porta, FG?

Sentir de novo

"Ah, coração, se apronta pra recomeçar. Ah, coração, esquece esse medo de amar de novo", canta Zizi Possi com aquela sua afinadíssima voz de cantora lírica. Voz que também agraciou a filha, Luiza Possi, que canta maravilhosamente bem. Sei lá, se filho de peixe peixinho é. Sei que olhar e ouvir a Luíza é um pouco como ver a Zizi começar de novo.

Há coisas que a gente precisa recolocar em pauta: caminhos que podem ser refeitos, locais a visitar, cômodos para reestar, lugares da cama para se deitar ou do sofá para se sentar, talheres e pratos para voltar a utilizar. Devem ser repostas em curso coisas que podem reanimar (trazer nova alma) ao corpo físico, ao corpo espiritual, ao corpo afetivo. Coisas que nos fazem ser mais do que costumamos. Coisas que nos tirem da vil letargia de viver por viver. Há pessoas que têm esse poder. Que alargam o horizonte do nosso olhar. Que firmam as batidas do nosso coração. Que harmonizam o ritmo da nossa respiração.

É preciso estar atento a isso porque, imagino, deve haver um ponto em que a letargia é tanta, que os olhos cegam, os ouvidos ensurdecem, o paladar se torna insípido, o olfato se inodora, e tato perde o contato. Daí por diante, nem o sexto sentido consegue dar sentido à vida. E ela fica aí, à espera de uma voz que a encante com um canto e que a tire do canto onde se encontra em calado pranto já um tanto habituado à insignificância. Essa voz solfeja em nossos ouvidos o convite à vida.

Necessário haver um pouco de romântico na gente. Como canta Vander Lee, um pouco de românticos e de sua capacidade de "amar sem medo de outra desilusão". É da nossa essência sentir e traduzir isso em  gestos, palavras, expressões ora grandes ora nem tanto; mas traduzir numa forma de vida que qualquer um pode olhar e dizer: é amor, porque se renova, porque recomeça, porque se recoloca sempre em pauta.

domingo, 12 de maio de 2013

Luz própria

Djavan é um sujeito que respeito bastante, tanto como músico (acho que compõe melodias interessantes numa harmonia agradável) quanto como compositor de letras interessantes, sobretudo nas metáforas que faz. Dizer, por exemplo, que "o amor é um lobo correndo em círculo para alimentar a matilha" faz pensar diferente. Ele também é bom nas frases denotativas. Aliás, uma delas me serve bem aqui: "O sol brilha por si".

E é fato, escrevi sobre os astros aqui outro dia, então não vou me ater tanto nisso. Mas faço questão de registrar uma experiência gloriosa, dessas que a vida chega pra gente e olha no fundo dos olhos para dizer: "escuta, filho; escuta o que eu vou te dizer". Estava com uma de minhas filhas no carro e, por alguma razão, no meio de tantos outros assuntos, um passou a dominar. Falávamos sobre luz.

E aquela ex-pequena filha, a quem pude ensinar um pouco do mundo, da vida, das palavras e das coisas, começou a me ensinar sobre luz.Definiu Luz, comparou luz com outros elementos, falou da formação da Luz, explicou a relação da Luz com os corpos, deixou muito claro por que vemos o azul como azul, o verde como verde; esclareceu o que é o branco e o que é o preto...

E eu ali, extasiado, não sabia se dedicava minhas energias para aprender o que ela me falava com tanta naturalidade ou se dedicava as minhas forças para deixar minha alma se deleitar com a dádiva de estar sendo ensinado por ela. Uma das coisas que ela disse foi sobre a distinção entre os corpos que têm luz própria - como o Sol - e aqueles cuja luz depende de outro fator para se fazer presente. Pois é: "o sol brilha por si"... e a gente?

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Bom coração?

"Meu pai, um dia, me falou pra que eu nunca mentisse" é um verso que eu conheço desde a infância, um período em que Roberto Carlos (que já era "O cara") tinha, na verdade, muito mais reconhecimento que tem hoje. Esse verso me faz pensar sobre a importância dos valores, dos princípios que regem a vida da gente. Esta era digna de um bom bate-papo com FG, mas o cara está curtindo merecidas férias prolongadas. Ali, sim, está um cara de coração bom, um "sangue bom", pessoa de bem.

Eu acho que não deveria acabar, mas o combustível do carro às vezes acaba, não é? Anteontem o do meu estava marcando presença no tanque. Parei para abastecer e aproveitei para dar uma geral, especialmente no sistema de resfriamento do carro. Pois é: barato não saiu a brincadeira. Nem foi um negócio rápido. Sei que, enquanto se fazia o serviço, eu ouvia as músicas que vamos tocar no estúdio no próximo sábado. Assim, vou curtindo as músicas e fixando melhor sua sequência melódica, sua cadência, etc.

Quando fui pagar, a moça do caixa me cobrou apenas o serviço extra, e não o combustível. Achei estranho o valor, mas ela disse que era aquilo mesmo. Então eu saí e fui procurar o frentista para esclarecer o negócio. E não é que ele tinha se esquecido mesmo de passar o valor para moça me cobrar? Voltei lá no caixa, peguei fila de novo e fui pagar o que eu efetivamente devia. Foi aí que me veio a surpresa: a moça me disse que eu era pessoa honesta e de bom coração, porque - segundo ela - qualquer outro viraria as costas e iria embora sem pagar - o que transferiria a dívida diretamente para o frentista.

Essa é uma questão de "bom coração"? Ora, faça-me o favor: desde quando pagar por um serviço recebido, por um produto adquirido, é sinal de "bom coração"? Trata-se de um exercício de cidadania. Diz respeito à valorização da justiça. Significa valorização do outro, consideração pelo outro. Demonstra a intenção de não prejudicar intencionalmente o outro, não lhe ser indiferente. Tem mais a ver com a escolha pelo "não mentir" do que com o fato de se ter "bom coração".

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Entrevista - última parte

Segue a parte final da entrevista dada à Revista Língua Portuguesa.

(***)

- Como você avalia esses fatos ocorridos no ENEM? O que você acha que deveria ser feito nesses casos?
Avalio que quem selecionou as redações e resolveu expor teve intenções pouco voltadas para a educação propriamente dita, e, talvez, tenha tido olhos políticos com finalidades mais destrutivas do que construtivas. É evidente que isso propiciou boas discussões, mas se não se olhar a situação com algum afastamento crítico, pode-se alimentar uma realidade, no mínimo, parcial e reducionista. Esses mesmos profissionais que fizeram tal levantamento talvez devessem considerar o percentual que essas redações representam frente às mais de cinco milhões de redações corrigidas. A postura é a mesma: supervalorizar um erro diante de centenas de acertos; supervalorizar uma dúzia de redações diante de milhões delas.

Nesses casos, penso que deve ser levantada uma discussão séria, pautada na responsabilidade social não só em relação ao ingresso das pessoas no ensino superior, mas também, em nível mais amplo, em relação aos usos da linguagem em diversos contextos. Há muitas questões subjacentes que devem ser consideradas e não se pode ser inconsequente diante dessa discussão.

- Você tem outros exemplos de casos semelhantes no ENEM ou em outras provas? 

Há inúmeros exemplos que circulam pela internet, mas que não faço questão alguma de expor, por duas razões. Primeira: fazê-lo parece ser o assumir uma postura superior frente ao erro do outro para ridicularizá-lo. Não acho que essa seja a melhor saída, porque só reforça o erro. O problema está aí e todos precisamos procurar medidas de atenuá-lo. Apenas expor os erros é uma atitude, para mim, irresponsável. A segunda razão é que precisamos reforçar posturas que possam agregar, ao invés de atitudes que segregam as pessoas em grupos (os que acertam, os que erram; os justos, os injustos). Todos nós somos parte de uma mesma realidade, ligados em redes de responsabilidades.

terça-feira, 7 de maio de 2013

Entrevista - Parte II

Segue a segunda parte da entrevista concedida à Revista Língua Portuguesa.

***


- E trechos de receita ou hinos de futebol transcritos aleatoriamente, conforme casos divulgados pela imprensa? Por quê?
Há que se analisar o contexto em que a citação a um hino de clube ou a uma receita aparece na redação do candidato. Prega-se, há muito tempo, a intertextualidade, isto é, a capacidade de o candidato citar outros textos como forma de corroborar sua própria argumentação. Se a receita ou o hino de clube – evidentemente um trecho e não na sua completude -  vier com o intuito de fortalecer a qualidade do raciocínio, não vejo grande problema – embora seja um recurso não recomendado em termos de argumentação por autoridade. Entretanto, se o trecho de hino ou de receita vier em tom de zombaria ou de desprezo pela situação avaliativa, é evidente que impedirá que a redação tenha nota máxima, sobretudo porque fere a própria relação formal entre os participantes da situação comunicativa: um candidato e um avaliador.  Se mal utilizada a citação, o candidato também pode perder pontos relativos ao domínio do gênero textual cobrado – no caso do ENEM, uma dissertação argumentativa. Em textos assim, todos os enunciados devem convergir para fortalecer a argumentação do candidato. Se não houver essa finalidade, haverá inadequação.

- Redatores podem ter boa argumentação e, num contexto de nervosismo de exames, tropeçarem na gramática?
Podem. E não só redatores em situação de exame vestibular. Qualquer um de nós pode tropeçar na gramática, assim como pode tropeçar na escolha de uma roupa, de um talher. O comportamento linguístico é um comportamento eminentemente social. Assim como um erro ortográfico ou um erro sintático não compromete o texto todo, uma escolha de um talher ou de uma peça de roupa considerada errada não impede que alguém se vista ou deixe de se alimentar. Qualquer pessoa em contexto de nervosismo está mais exposta a erros, e isso deve ser considerado por ambas as partes: pelo redator e pelo candidato.

- Neste caso, sua aprovação pode ainda assim ser considerada justa? Por quê?

Enquanto não nos libertarmos do ideal clássico de perfeição e do maniqueísmo que divide as coisas em justas e injustas, só boas ou só ruins, continuaremos jogando fora da bacia o bebê e a água do banho. Não são poucos os exemplos de pessoas hoje absolutamente respeitadas dizerem claramente que não dominam gramática. Luís Fernando Veríssimo é um. No seu famoso texto O Gigolô das Palavras, ele afirma claramente que “Escrever bem é escrever claro, não necessariamente certo”. E ele ainda brinca com isso, dizendo mais: “Dizer ‘escrever claro’ não é certo, mas é claro, certo?”. Não quero comparar os candidatos ao Veríssimo nem este àqueles. Quero apenas dizer que considerar injusta a aprovação de alguém apesar de um ou outro erro gramatical pode ser uma postura de inflexibilidade que tende a revelar que só os perfeitos têm lugar ao sol. A vida não é assim: em todos os papéis sociais estamos sujeitos a falhas. Mas, assim como nós mais acertamos que erramos, não somos execrados a cada erro cometido, também os candidatos não devem ter considerada injusta sua aprovação apesar de seus erros, pois eles mais acertaram que erraram. Não, não estou dizendo que temos de ser coniventes com erros, mas que a nossa postura diante do erro precisa ser revista.

Entrevista para a Revista Língua Portuguesa I

Esta semana foi publicado na revista LÍNGUA PORTUGUESA um material sobre a correção de redações no ENEM. Como o que vem a público é apenas uma parte do que dissemos, publico aqui as respostas completas que dei. Hoje, um pouco; amanhã, um pouco mais. Depois de amanhã, a parte final.
***


- É possível aceitar nota máxima no Enem em redações com erros ortográficos, como "rasoável", "trousse" e "enchergar", ou sintáticos, como concordância verbal? Por quê?
Penso que nesses casos, a nota não deva ser máxima, uma vez que o candidato que comete um ou alguns desses erros acaba sendo debitado no critério que analisa o domínio da norma culta. Mesmo que o candidato apresente problemas ortográficos, morfológicos ou sintáticos leves ou graves, ele ainda pode obter uma nota considerada alta, porque os demais critérios somam 800 pontos – dos 1000 possíveis. Embora seja pouco provável, é possível.

- E trechos de receita ou hinos de futebol transcritos aleatoriamente, conforme casos divulgados pela imprensa? Por quê?
Há que se analisar o contexto em que a citação a um hino de clube ou a uma receita aparece na redação do candidato. Prega-se, há muito tempo, a intertextualidade, isto é, a capacidade de o candidato citar outros textos como forma de corroborar sua própria argumentação. Se a receita ou o hino de clube – evidentemente um trecho e não na sua completude -  vier com o intuito de fortalecer a qualidade do raciocínio, não vejo grande problema – embora seja um recurso não recomendado em termos de argumentação por autoridade. Entretanto, se o trecho de hino ou de receita vier em tom de zombaria ou de desprezo pela situação avaliativa, é evidente que impedirá que a redação tenha nota máxima, sobretudo porque fere a própria relação formal entre os participantes da situação comunicativa: um candidato e um avaliador.  Se mal utilizada a citação, o candidato também pode perder pontos relativos ao domínio do gênero textual cobrado – no caso do ENEM, uma dissertação argumentativa. Em textos assim, todos os enunciados devem convergir para fortalecer a argumentação do candidato. Se não houver essa finalidade, haverá inadequação.

domingo, 5 de maio de 2013

Ao coração, suas batidas

Quem lê Edgar Allan Poe tem o privilégio de se deparar com um dos seus mais impressionantes contos: "O Coração Revelador" (ou "O Coração Delator", dependendo da tradução). Ali se vê uma personagem que se deixa revelar não por outra coisa, senão pela intensidade das batidas do coração. Ou, por outro lado, pela sensibilidade de perceber as batidas do coração. Isso muda toda a história.

Tanta coisa é capaz de alterar o curso da história... decretos, leis, atos do âmbito político autorizam ou desautorizam práticas sociais, instituem ou destituem hábitos cotidianos. Por outra, acontecimentos naturais, intempéries, grandes períodos de seca ou de enchente entortam o caminho de muita gente. Admissões e demissões, conquistas e perdas... tanta coisa é capaz de alterar o rumo da vida da gente... tanta coisa... e a gente ainda se fixa desesperadamente na ilusão de que tudo está sob controle.

Como se não bastasse, há algo que, sem pedir licença muda completamente o chão sob nossos pés. E esta foi uma lição que eu tive de aprender na marra, a muito custo e com muita dor: reconhecer a impossibilidade de reconhecer. Isso mesmo. Dar o braço a torcer para o fato de que na nossa vida há uma parcela de acontecimentos que podem ser creditados ao imponderável.

O bom de tudo isso é que a gente vê o quanto a vida muda. Ora pra melhor. Ora pro que a gente não consegue qualificar. Em todas, algo comum: o coração passa a bater mais forte, com euforia, com motivação, com alma. Ou passa a bater mais fraco, disfórico, desmotivado, desanimado. E ele precisa aguentar pra que a gente possa seguir o caminho. No que tange ao nosso alcance, é preciso dar ao nosso coração apenas as batidas que ele pode aguentar. É ele que, mais cedo ou mais tarde, vai nos revelar.

'A lei mesquinha dos mortais'

"Quis sair de mim, esquecer quem sou e respirar por ti. E assim transpor a lei mesquinha dos mortais" é uma estrofe de Jorge Vercilo, na música Fênix. Confesso que ouvir Jorge Vercilo, para mim, é algo saturado. Sua voz não me encanta mais; seus versos não me atraem. Não sei explicar por que, mas é assim. Como diz o Chicó em "Auto da Compadecida": Sei não; só sei que foi assim. Mas essa música do Vercilo é de uma sensibilidade especial. E me leva a ouvir novamente e novamente. Nova mente. 

Hoje encerrei mais um módulo de aulas na pós-graduação. Desde que cheguei para a aula, tinha uma sensação de que, embora pontualmente fosse o último encontro com aquela turma, não o era em essência. Às vezes, os finais são fins mesmo. Será? Não sei mesmo. Não é nisso em que acredito, apesar de em alguns casos haver uma ruptura radical e uma postura de distanciamento tão intensa, que determinada coisa, cena ou pessoa, fica completamente apagada. 

Mas não é isso que sinto quando estou no último dia de aula; não sinto estar chegando ao fim-e-ponto. O que sinto é estar em um momento em que é preciso oferecer um gancho, um trampolim, uma catapulta, uma alavanca, uma corda, um degrau, um elevador, algo que possa içar os alunos daquele ponto para um outro em que possam ver mais, ouvir mais; algo que possa fazê-los perceber sua capacidade de ir além, motivá-los a dar passos mais ousados e vislumbrar, com responsabilidade, o quanto podem contribuir consigo próprios, com seus alunos e seu mundo.

É importante que nessa hora a lei dos mortais, a" lei mesquinha dos mortais", sinta-se intimidada pelo desejo de produção de vida que, com toda certeza, vai se multiplicar em outras vidas, e estas em outras, até produzir uma pletora de vida que se espalha e preenche os espaços da existência. 


sábado, 4 de maio de 2013

Desde quando?

"Vejo vir vindo no vento o cheiro da nova estação", canta Belchior em uma música da qual a parte que quase exclusivamente se lembra é "ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais". Música de formatura, por certo. Para mim, música de formação, de processo. O retrato de uma nova estação constante. Um processo que a gente só sabe que está dentro dele, mas não sabe dizer exatamente quando começou.

Tirante a hérnia, que desde quarta-feira resolveu me fazer companhia bem presente, hoje foi um dia ótimo, farto de novidades. As aulas da manhã, divertidas como sempre. À tarde, uma orientação de estudo muito, mas muito proveitosa. Ao fim da tarde, uma visita inesperada e extremamente prazerosa, desafiadora e motivadora.

À noite, o lançamento do livro de um ex-aluno, eterno amigo - como disse no Face. Fiz questão de parabenizá-lo. O reencontro de ex-alunos foi emocionante. O de colegas professores, também, afinal aventaram-se propostas de trabalho interessantíssimas e repletas de expectativas, com grandes possibilidades de guinadas na carreira.

Tudo isso começou, na verdade, no sábado passado, com uma proposta imensa de produção de material didático. Aliás, começou ainda antes disso, com a possibilidade de formação de coordenadores. Não, não: foi antes ainda: foi quando tive oportunidade de fazer formação para os professores com os quais trabalho. Não, pensando bem, foi quando fechei um contrato para o ano todo para formar e avaliar professores de uma escola bilíngue. Ou será que foi bem no comecinho do ano, em formação para uma das maiores escolas de São Paulo? Não, na verdade... peraí, peraí: esse vento de nova estação está batendo deste quando?  

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Menos do que se espera

Dinho Ouro Preto, do Capital Inicial, é um sujeito bem articulado e compõe umas músicas muito legais. Legais até de tocar no violão ou no contrabaixo. Apesar de sua voz ser um pouco irritante às vezes, gosto de ouvi-lo cantar. O CD Acústico do Capital ficou muito bom. Uma das músicas do Capital que me agrada é "Não olhe pra trás". Tem uma estrofe ali que diz: "Como sempre estou mais do seu lado que você, siga em frente em linha reta; não procure o que perder".

O que me fez lembrar esta música hoje foi estar no fim de tarde em meu escritório, de onde tenho uma visão privilegiada tanto do nascer quanto do nascer do sol. Hoje à tarde, olhei para ele e estranhei. Não vi nele o vigor o brilho, a intensidade que sempre costumo ver em outros dias e no mesmo horário. Imediatamente tive a mesma sensação que tenho quando vejo uma pessoa no mesmo estado.

Não raramente consigo perceber a falta de brilho em alguém. Consigo perceber quando alguém está brilhando menos do que se espera. Não. Não e não. Nada de especial, nada de sobrenatural nem de sensitivo, nada de mais. Nem de menos. Só vejo que parece faltar algo. Daí, claro, se houver liberdade para tal, me aproximo e pergunto se há algo "fora de ordem". Dito e feito: em geral, as pessoas se abrem e acabam falando a respeito - o que resulta numa espécie de desabafo que faz com que se sintam melhor depois. Sobretudo, por poderem ter compartilhado.

A gente é um pouco um astro, com milhões de explosões internas que nos fazem brilhar, que nos dão calor e cor. As mesmas que resultam em um clarão que nos faz ser percebidos e iluminar os outros à nossa volta. Às vezes, brilhamos menos e precisamos só de um calor a mais, de uma luz a mais, de uma energia a mais, que virá certamente do contato com outros sóis, outros astros que, como nós, ajudam a compor o brilho do Universo. Astros que nos orbitam e que, às vezes, acreditam em nós mais que nós mesmos. É essa centelha de crença e de motivação que acende tudo.




quarta-feira, 1 de maio de 2013

Feriado para pôr ordem

É Dia do Trabalho hoje.

É feriado nacional e, pelo menos em São Paulo, o dia acorda ensolarado, bonito brilhante. Os raios do sol vão aquecendo a manhã, empurrando a névoa da madrugada e favorecendo a visão, ainda que turva, dos prédios e das casas que estão entre mim e a varanda de onde moro.

Para muitos, um feriado estranho, que cai exatamente no meio de semana, entre a terça e a quinta. Mal dá para animar o espírito e entrar num carro para "preferir as curvas da estrada de Santos", como cantaria o Rei. Mas sei que muitos irão, porque associam fim de semana e feriado a momentos passados necessariamente na praia ou no campo. E fazem bem, porque qualquer descanso ao corpo significa armazenamento de energia para qualquer outra atividade que se precise fazer.

Tem também um contingente enorme de pessoas que veem no feriado uma possibilidade de tirar o atraso em que se encontra seu trabalho semanal. Pessoas que vão colocar em ordem os relatórios, os contatos, os registros. Pessoas que vão fazer balanços, organizar procedimentos, rever horários. Pessoas que vão ler os textos da especialização, do mestrado, do doutorado. Pessoas que vão ler monografias, dissertações, teses. Pessoas que, na celebração do Dia do Trabalho, vão trabalhar.

Há ainda aqueles que associam o feriado, como este, à possibilidade de botar a casa em dia. Por ser curto, preferem acordar um pouco mais tarde e, de pijama mesmo, arrumar as louças no armário da cozinha, as roupas no guarda-roupas, os livros na estante, as almofadas na sala. Vão, de alguma forma, se relacionar com a casa, a qual passa quase despercebida em meio ao excesso de trabalho que acomete a muitos nesses dias. Outros precisam desse tempo, e de muito mais, para colocar a si próprios em ordem: rever seus pensamentos, seus sentimentos, suas práticas.