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Daqui pra frente, divirta-se trocando ideias comigo.
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sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Da noite para o dia

Quem assistiu ao filme Sociedade dos Poetas Mortos deparou-se com um ensinamento importante: "Carpe Diem". Essa antiquíssima expressão com um verbo no imperativo e um substantivo no acusativo, leva a tradução para "aproveite o dia". Em suas Odes, o poeta Horácio dava este conselho: "Aproveite o dia (de hoje). Não confie no de amanhã".

De fato, o que temos é mesmo o dia, o dia que vivemos, o dia em que vivemos. Ele é só o que temos. Ou será que é ele que nos tem? Não sei mesmo.

Viver das migalhas de sentido é pouco. Seria ingenuidade pensar que o sentido da palavra "dia" resume-se a um período de 24 horas.  Dia significa jornada, significa duração. Dia é o período de luz, que convive com o de trevas num todo indissociável. Ora, metaforicamente não precisamos dar muitos passos até perceber que estamos falando da própria vida.

Naturalmente, cada um aproveita seu dia como melhor lhe aprouver. Por meu turno, aproveito cada um dos dias que Deus me concede, oferecendo às pessoas o que acho que seria melhor para elas, dando às minhas filhas todo o amor que merecem, cultivando meus amigos, respeitando todos que me ladeiam, trabalhando honestamente, divertindo-me, estudando, promovendo o (que julgo ser o) bem para mim, para as pessoas que convivem comigo e para o meio em que me encontro.

Breve, bem breve, "da noite para o dia", posso estar privado de um dia para aproveitar. Enquanto isso não ocorre, em relação ao dia que tenho, "quero vivê-lo em cada vão momento... e rir meu riso e derramar meu pranto ao seu pesar ou ao seu contentamento".

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Sempre não é todo dia

Oswaldo Montenegro é um artista que tem minha admiração, seja pelas belas músicas, seja pelas excelentes letras que ele compõe (às vezes, um tanto tristes, é verdade). Envolvido também no mundo do cinema e do teatro, ele é autor de versos reveladores, como o que utilizei para intitular esta postagem: "Eu acho que será pra sempre, mas sempre não é todo dia".

Um dos meus objetivos de vida é ver minhas filhas crescidas, saudáveis, seguras, responsáveis e felizes. Penso que, até o momento, isso tem sido alcançado, com muito esforço, muita determinação: com muito amor, muita conversa franca, olho no olho, muita sinceridade, colocação clara de limites, motivação expressa para constante superação, oferecimento diário de uma vida transparente como parâmetro de pontos fortes e fracos, do que fazer e do que não fazer. Eu diria, sobretudo, alcançado com muita presença.

Daqui a pouco, dia 30, será aniversário da Gabi: completará 14 anos. Hoje, na véspera de uma data tão importante, passou por um mal-estar que culminou com nossa ida ao hospital e posteriores cuidados familiares. Uma guerreira, esta menina - posso dizer isso seguramente, porque mesmo antes de ela embelezar este mundo com a sua presença, já dava expressivas demonstrações disso. Quem a viu nessas duas últimas semanas (tantas lições e provas, tantos ensaios, tantos treinos, tantas competições em tantas modalidades) pôde contemplar sua graça e sua força. Hoje, quando seu corpo fraquejou e precisou de um apoio, não lhe faltou. Literalmente, até: poder sustentar sua cabeça em meu colo para descansar um pouco foi inefável. É maravilhoso ver, até nesses momentos, sua força, seu bom humor, sua alegria.

Já a Isa, imenso mar de ternura, afeto e compaixão, tem vivido experiências que me enchem de orgulho a cada dia. Quem vê esta fortaleza de sorriso pronto, de palavras precisas, de ombro sempre à disposição, de olhar mais atento que o de lince, de coração maior que o universo, sabe que está diante de uma pessoa muito especial. Quem vê o modo como ela se reergue cada vez mais forte, como supera seus desafios pessoais e interpessoais, entende que a graça muitas vezes vale mais que a força para vencer um combate. Esta menina tem me surpreendido a cada dia. Esta semana, tive o privilégio de ser um dos primeiros com quem ela compartilhou duas grandes vitórias pessoais. Eram tantos os sorrisos e os abraços, que eu me sentia inundado pelo oceano da sua alegria.

Sem a menor sombra de dúvida, sou um privilegiado. Deus é mesmo muito gracioso para comigo. Experiências assim me fazem uma das pessoas mais felizes deste mundo, sobretudo, porque na busca daquele objetivo que citei acima, é importante que minhas filhas saibam que me têm por perto sempre. Embora sempre não seja todo dia.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Tudo é frágil, tudo passa

Passei o dia pensando no que postar hoje. Muito do que escrevi ontem continua ecoando em mim, pedindo para vir à tona. Toda vez que eu tentava focar em algo, meu pensamento corria para a poetisa moderna/romântica portuguesa Florbela Espanca. Engraçado essa lembrança vir agora. Lembro bem que na época da faculdade, quando tomei conhecimento da obra dessa encantadora mulher, meu pensamento era: "caramba, ela escreveu o que eu queria escrever!"

Envolto em pensamentos, lembranças e estímulos para escrita, lembrei-me do poema "Fanatismo". Independentemente do que possa significar um TU na vida da gente, é preciso tomá-lo sempre na relação com o que queremos que signifique um EU. É nesse sentido que, muito modestamente, tomo emprestadas as palavras de Florbela Espanca para dizer o que ela disse em 1923:

Fanatismo


Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver !
Não és sequer a razão do meu viver, 
Pois que tu és já toda a minha vida !


Não vejo nada assim enlouquecida ...
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida !


"Tudo no mundo é frágil, tudo passa ..."
Quando me dizem isto, toda a graça 
Duma boca divina fala em mim !


E, olhos postos em ti, digo de rastros :
"Ah ! Podem voar mundos, morrer astros, 
Que tu és como Deus : Princípio e Fim ! ..."


Livro de Soror Saudade (1923)

O agora e o quanto

Uma das músicas que mais me encanta no Guns'n Roses é November Rain. Logo no começo, assim como na música toda, versos bombásticos, como "Nothing lasts forever" são ouvidos como um vendaval de revelações que, embora simples, ganham a força de uma tempestade - principalmente se ouvidas com o magistral arranjo que veste a música de quase 10 minutos.

Se tivesse 10, eu ouviria os 10 minutos. Se 20, 20. Mas não dura nem 10. O que faço, então? Ouço repetidas vezes, ora ouvindo a letra, ora prestando atenção nos teclados tocados pelo próprio Axl, ora nos solos do Slash, ora na bateria certeira de golpes precisos e, é claro, muito principalmente no contrabaixo que dá um peso singular na música e se responsabiliza pela marcação densa e extremamente agradável.

É assim. A música não dura para sempre. As relações também não. Os trabalhos não duram para sempre. Os estudos também não. Muitas crenças ruem. Verdades científicas, também (olha aí: o que era chamado de "átomo" não pode mais ser; o que era um planeta, Plutão, não é mais...). Alegrias. Tristezas, dores. Nada dura para sempre, nothing lasts forever. Mas o que é bom e verdadeiro, enquanto durar, deve ser vivido, revivido numa constante retroalimentação que durará até sabe Deus quando.

O fato é que, sendo esta uma verdade, é preciso viver cada coisa em seu momento, cada sentimento em seu devido lugar, cada relação em seu tempo, cada situação em seu local. Cada crença em seu contexto, cada experiência em seu espaço. É preciso viver cada coisa em seu agora. Vivê-la o quanto for possível. "Live and let die", outro verso cantado por Axl, de uma música do Paul McCarthney, ilustra igualmente este pensamento. Que acaba aqui.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Porções de ilusão

Cazuza, com toda a sua conhecida energia para as palavras, cantava: "pequenas porções de ilusão... me interessam". A meu ver, mais uma vez estava certo o artista rebelde que clamava por uma ideologia para viver.

Ainda tenho dificuldade para acreditar que a felicidade seja algo perene, de duração eterna, inabalável. Difícil até afirmar que alguém seja sempre feliz. Penso que haja momentos de felicidade que se sucedem e se alternam com outros momentos nem tão bons assim.

Pois é. Ao pé da letra, ilusão é exatamente o aspecto daquilo que é efêmero, de durabilidade incerta. Penso ser saudável ir em busca dessas "pequenas porções de ilusão", dessas pequenas alegrias que nos levam a sensações intensas, gostosas e marcantes; que nos levam a sentimentos densos, a gargalhadas e suspiros. Em busca das coisas que são eternas enquanto duram. Coisas que nos fazem bem e nos elevam.

Não constitui segredo para ninguém o fato de tudo ser passageiro. Tudo mesmo: existe, brilha intensamente, depois passa a existir de outra forma. Um pouco ou muito mais distantes da gente. Portanto, é preciso cuidar dessas pequenas porções de ilusão e vivê-las como se elas e nós fôssemos a mesma recíproca realidade. Isso diz respeito a nós também. Imagino que sejamos como as ilusões: estrelas de brilho intenso e raro, mas que em breve passarão.

domingo, 26 de agosto de 2012

Cura pela (falta de) memória

Alzheimer é uma palavra que soa negativamente logo que se pronuncia. Também pudera: diz respeito a um mal incurável - até onde sei. Ele "me subtrai do que em mim passou". Mas a perda de memória, desassociada do Alzheimer, esta tem muitas possibilidades de cura.

É evidente que há coisas, pessoas, acontecimentos que é melhor esquecer. É, no mínimo, mais salutar. É preciso lembrar as coisas boas que nos fizeram o que somos. Há muitos meios para isso. A internet, por exemplo, é uma ótima ferramenta para reencontrar amigos. E amigos, uma eficiente companhia para ressuscitar a memória. 

Eu mesmo já tive oportunidade de poder rever amigos que eu não via desde meus 10 anos. Desde os meus 15 anos. Desde os meus 20epoucos anos. Esses reencontros foram completamente revigorantes para minha memória. Lembrei de muitas realizações, de muitos jogos, de muita diversão, muitas traquinagens. Lembrei de coisas que eu dizia e ouvia. Lembrei de coisas que eu cantava e tocava. Lembrei de coisas que eu lia e escrevia. Lembrei de desafios superados. Lembrei de frustrações. Lembrei de sonhos. Lembrei de mim.

Trata-se, sem dúvida de uma reconstrução do próprio passado. De uma reconstrução de si. É um reavivar da memória e, por conseguinte, das emoções e sensações associadas a cada acontecimento trazido novamente à tona. Embora  mais difícil, lembrar sozinho é muito legal. É um insight, um flash. Um flash back. Mas lembrar pelo testemunho dos outros tem um ar de credibilidade magnífico! Tem um tom medicinal, na medida em que nos cura do esquecimento de mim mesmo. Este ganho de memória "aumenta em mim o único que sou".

sábado, 25 de agosto de 2012

Ganhar com a cabeça.

Um dos alunos que atendo no meu escritório (everconsultoria.com.br) é um garotinho de 8 anos. Fazemos encontros semanais para aprimoramento de leitura, escrita, audição e fala. É ótimo o garoto, educadíssimo, excelente aluno, excelente pessoa. No final da aula de hoje, ele me confidenciou que estava preocupado com uma competição que ele terá amanhã. Estava com medo de cometer alguma falha e não atingir o pódio.

Depois de ouvir muito atentamente seu relato, suas vitórias e sua preocupação recente, tentei mostrar a ele que, além da competência que ele já tem, é preciso que ele se prepare para as coisas que podem dar errado. Primeiro, para se precaver e diminuir as possibilidades de elas acontecerem. Segundo, para saber o que fazer, caso elas sejam inevitáveis.

É muito bonito ver como uma criança olha pra gente quando ouve algo que ela precisa ouvir. Parece beber nossas palavras, parece que nosso discurso entra na alminha daquele ser tão sublime. Aproveitei a oportunidade para lhe dizer que havia um detalhe importantíssimo, que poderia fazê-lo ter um bom ou um mau rendimento. Claro que fiz suspense. No rosto dele se desenhou uma interrogação tão grande, que dispensava qualquer palavra.

Sustentamos o olhar por um tempo, até eu levantar minha mão e colocar meu indicador levemente na sua fronte. Ele levantou as sobrancelhas, não disse palavra alguma, mas seu semblante brilhava. Então, ele fez um movimento afirmativo com a cabeça e sorriu.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Vi ver o tempo

Uma das frases que mais me marcaram em minhas leituras foi uma do livro O PROFETA, do Khalil Gibran Khalil. Entre muitas reflexões belíssimas que faz em cada capítulo, registro aqui uma paráfrase: tudo que se perde nesta vida é recuperável; exceto uma coisa: o tempo.

E é algo com que concordo tão completamente, que isso se tornou um norte no meu cotidiano. Importo-me menos com as coisas materiais que perco, do que com a perda de tempo - que eventualmente me acomete. Procuro aproveitá-lo da maneira mais produtiva possível. Isso, porque o tempo "nunca pede permissão para passar".

É fato: faço muitas coisas todo o dia de todos os dias. Em meio a tantos afazeres, tenho o privilégio de estar com minhas filhas e curtir minhas amizades diariamente. Em relação às obrigações comigo e com os trabalhos e pesquisas, são muitas coisas mesmo. Não vou relatá-las aqui. São tantas, que sempre tem alguém para me dizer: "não sei como você aguenta, não sei como você consegue...".

Responderia a cada um desses comentários com uma constatação: como me ensinou Fernando Pessoa, coloco-me inteiro em cada coisa que faço. Vivo cada momento do modo mais completo possível, dando de mim o máximo que consigo. 

Às vezes, até mais do que posso, como cantaria Djavan: "Sabe lá, o que é não ter e ter que ter pra dar?". Ou, ainda, o mesmo Djavan: "Se eu tivesse mais alma pra dar, eu daria. Isso pra mim é viver".

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Eu: meus alunos

Estou certo de que perco muita energia quando estou com meus alunos, independentemente de serem os do Ensino Fundamental ou do Ensino Superior.

Gosto tanto de ver o modo como me recebem, o sorriso deles, o brilho dos rostos daqueles que aprendem, o desenho nítido da interrogação daqueles que ainda precisam de mais informações. Enfim, gosto do contato deles, com eles, por eles, para eles.

Não há dúvidas de que levam muito de mim, mesmo antes de a aula começar, porque a preparação da aula já uma forma de contato;  também me exigem muito na condução da aula (ofício em que me realizo completamente), diria o mesmo para o período de correção das provas, avaliação dos trabalhos e devolutiva: com toda certeza, um momento bastante terapêutico.

Igualmente, e isso é algo indescritível, o contato com eles "aumenta em mim o único que sou; me subtrai do que em mim passou". Portanto, é mais do que justo dizer que eles me trazem mais do que levam. Trazem vida, alegria, problemas para resolver, sugestões, solicitações e mais: a esperança em um futuro melhor, porque a cada dia que entro na sala de aula, entro para formar pessoas. Entro para deixar nelas um pouco da minha contribuição para que sejam pessoas mais fortes, seguras e felizes.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Lembrar que esqueceu

Será o esforço para lembrar inversamente oposto à vontade de esquecer?
Esquecer é, de certa forma, perder. Um dado da memória, uma informação, um registro é perdido do acesso imediato, como um livro pequeno sobreposto por diversos outros grandes livros num sebo.
Por outro lado, essa perda de informação, esse lapso de memória, pode ser bastante positivo. Pode ser um ganho, por exemplo, em questões traumáticas emocional ou psicologicamente. Faz bem esquecer. Ou melhor: faz bem não lembrar.
Há tratados filosóficos, psicológicos, antropológicos, sociológicos (todos tão dislógicos) sobre o esquecimento, que não raramente é bem mais fácil esquecer do que entender por que se esquece. Ou para que se esquece.
De repente, a gente se lembra de que havia esquecido algo. Ou alguém.
Ou, ainda, alguém nos lembra de que esquecemos algo. Ou alguém.
O esquecido passa a ocupar o posto de "uma ideia que existe na cabeça e não faz a menor pretensão de acontecer". Pelo fato de ela não latejar, faz-se despercebida. Desapercebida. Daí, a gente passa a esquecer de lembrar dela, até um dia lembrar que não era para esquecer.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Ganhos em perdas

Olha, pode crer: já perdi muita coisa nesta vida. Pessoas também.
Muitas delas eu nem lembro que perdi.

Em compensação, outras há que só de lembrar que perdi, volto a sentir o espaço vazio, impreenchível, incompletável, insubstituível. Funções são substituíveis: pessoas, não.

Tenho na mão direita uma cicatriz que é a clara metáfora das minhas perdas. Ela habita minha mão, porque, embora eu tenha avisado o médico da possibilidade da formação de uma queloide pós-cirúrgica, não teve jeito. Ela se instalou depois do cisto extraído. Mas eu quase não me lembro dela. Isso só acontece quando há contato visual. Como não vivo olhando para minha mão... pouquíssimas vezes me lembro da cicatriz, assim como pouquíssimas vezes me lembro das perdas. Mas, quando lembro, lembro.

Perdas têm o poder de nos colocar em crise. Crises, por um lado, têm a capacidade de nos parar completamente ou parcialmente - seja para cair prostrado, seja para parar e reorganizar o espaço. As crises têm a competência de nos impulsionar para a frente e nos fazer ganhar novos ares, novas forças, novas experiências.

Sigo cantando, sigo sorrindo, sigo curtindo a imensa alegria que a linguagem me traz, sigo absorvendo a inexplicável energia que o contato com as pessoas me propicia. Sigo "em paz comigo e consigo", porque nos atuais meados da minha existência eu ganhei muito, muito mais do que perdi.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

São. Parecem.

"Infelizmente nem tudo é exatamente como a gente quer", cantava Guilherme Arantes, com sua voz frágil na música "Deixa Chover". Foi assim que vi falhar meu plano de postar um texto todos os dias. Por incrível que pareça e por mais irônico que isso possa soar, foi justamente escrevendo sobre planos que não consegui manter os planos de postar um texto por dia. É. Nem tudo é como a gente quer mesmo. Mas, daí a ser "infelizmente", é outra história.

As coisas são o que são, parecem o que parecem. Atribuir sentido a tudo que há nem sempre é possível. Fazer isso é tentar racionalizar as coisas de um modo que elas pareçam confortáveis para nós. Ou, como cantaria Oswaldo Montenegro, para que elas pareçam "ao menos suportáveis". Lembro bem, muito bem, de Alberto Caeiro que, em sua sabedoria mais chã, afirmava que o sentido das coisas é elas não terem sentido. São o que são. E ponto.

Há na vida algumas realidades (concretas, virtuais, abstratas, emocionais, espirituais... ) que não têm explicação. Quando recebem alguma, é porque alguém precisou fazê-lo para atenuar o nível de realidade que pode suportar - como afirmou Nietzche. São coisas imponderáveis. Que são porque são. Que parecem porque parecem.

sábado, 18 de agosto de 2012

Sem surpresas...

Tem gente que é obcecada por planos. Planeja, planeja, planeja. Planeja até o dia em que tem de planejar. Por exemplo, um colega meu tem duas ocasiões em que ele se obriga a fazer planos: no dia do seu aniversário e na virada do ano.

Embora ele o faça sempre, nessas duas datas especiais, ele se senta e escreve com mais rigor os planos. Faz questão de registrar e acompanhar ao longo do ano a consecução ou não daquilo que traçou para si. A obsessão parece dominá-lo tanto, de tal forma impressionante, que ele planeja o que fazer e o que não fazer. E vai ticando as vitórias obtidas. Mais: faz uma lista de pendências, do que falta conseguir para ter seu planejamento realizado.

Para ele, a razão de muitos insucessos é a falta de planejamento. Segundo seu modo de pensar, uma promoção no trabalho não vem justamente porque não se planejou o modo de obtê-la; tem-se rendimento escolar ruim pela mesma razão; rompem-se relacionamentos pelo mesmíssimo motivo... Ele chega ao ponto de desconsiderar pessoas que não planejam.

O inverso também é verdadeiro: considera os grandes sucessos como obra de bom planejamento: na vida pessoal, familiar, acadêmica, profissional... E, como não poderia deixar de ser, valoriza mais as pessoas que calculam os passos que darão na vida.

Calma lá, eu lhe digo...
É preciso pensar sobre as surpresas e sobre o imponderável

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Quando os planos falham

Tão ou mais importante que planejar, é replanejar. É a famosa "arte de sorrir cada vez que a vida diz 'não'".
Se planejou ir bem na escola e, ao final, viu que as médias não foram como o esperado, é preciso ver 1)se o plano era mesmo executável; 2) se foi devidamente executado; e 3) entender o erro para replanejar as ações. Se planejou algo para a carreira ou algo para a vida pessoal, interpessoal..., enfim: se planejou algo e a coisa não aconteceu, é preciso mesmo dar os três passos acima.

Só que, às vezes, é importante entender que o resultado depende só de nós. Há momentos, porém, em que depende dos outros. Tem vez que fatores externos, impessoais e fora do nosso controle atrapalham. Tem outras em que fatores internos e bem pessoais também.

A chave parece ser ter consciência do processo até onde isso é possível. Sim, porque em muitas ocasiões é preciso lidar com o imponderável. Diante do imponderável, é preciso "levantar, sacodir a poeira e dar a volta por cima" - como cantariam os mais experientes. Ou ainda, saber que "as ideias estão no chão; você tropeça e acha a solução" (Titãs).

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Causo de planos

Reza a lenda contada por um amigo meu que, certa vez, planejou ir a um show, sem saber exatamente com quem iria. Confiante, comprou logo dois ingressos. Teve a brilhante ideia de convidar uma belíssima loira. Decidido isso, não teve dúvida: mandou-lhe um e-mail, convidando. Até o dia anterior ao show, nada de resposta. Desistiu. Meio entristecido, foi sozinho. Tudo para ser só mais um show. Mas, segundo este amigo meu, sempre preocupado com planos, inclusive com planos de chegar antes aos compromissos, a coisa não foi bem assim.

Ele me confidenciou que já la dentro, minutos antes de começar o show, recebeu o esbarrão de uma moça morena que carregava numa mão um copo de cerveja; na outra, uma bolsa, com a qual esbarrou no meu amigo. Achou-a uma mal-educada, mas, como ela estava com a cerveja, julgou que estivesse apenas fora de si. Iniciado o show, a moça dançava muito, pra lá e pra cá, dizia ele. Esbarrava nele tanto na ida para trocar de lugar na pista, quanto durante as danças que fazia. Pisou seu pé uma, duas vezes. Até que ela resolveu pedir desculpas. Desculpada, ela dançou mais livre, esbarrou com as costas nele; virou-se e perguntou se ele também havia ido ao show sozinho. Diante da resposta positiva, a conversa evoluiu. A dança que era de uma só, passou a ser de dois. O cara ainda teve a audácia de me contar que a moça passou rapidamente da dança ao abraço, do abraço ao beijo. Do beijo aos beijos.

Pois é. Sendo verdade ou não a história que ele me contou, isso me fez pensar que, às vezes, a falta de planos ou o fato de haver planos que dão errado não é algo necessariamente ruim. Deve haver para nós outros planos que a vida tem reservados. Imagino que algumas vezes eles coincidem com os nossos. Outras vezes...






terça-feira, 14 de agosto de 2012

Plano = Chão

Por mais incrível que possa parecer, a palavra PLANO tem tudo a ver com CHÃO.
O encontro das consoantes PL, CL, ao passarem do Latim ao Português foi se transformando em CH na boca sábia do povo. Dessa forma PLuvia virou CHuva; por sua vez, CLave virou CHave.

O processo de mudança da palavra PLano tem um passo a mais: PLano => CHano => CHão.
Poucos sabem, mas aquele  TIL sobre o A (ã) na palavra "chão" é o mesmo N que estava entre o A e o O desde a palavra "plano". Por isso, não é desarrazoado relacionar PLANO e CHÃO.

Se, por um lado, os planos têm o incrível poder de nos fazer voar, por outro, têm a impressionante façanha de manter nossos pés no chão. São eles que favorecem estarmos com "a cabeça nas nuvens e os pés no chão" (Guessinger).

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Atenção a quem? De quem?

É preciso considerar o item "atenção" no dia a dia. Diria mais: no hora a hora. Como pai, apaixonado pelas minhas filhas, desejoso de que cresçam mulheres fortes, seguras e felizes, desejei muito a atenção delas. Há vezes na vida em que se aprende que expectativas exageradas são as fontes das maiores frustrações. Não foi dessa: minhas filhas passaram o dia comigo. Difícil apontar satisfação maior.

Tudo nesta vida é uma questão de escolha. Contextos anteriores nos levam a escolhas presentes. Visões de futuro nos levam a escolhas presentes. Escolhas presentes ora nos levam a remodelar o passado, ora nos levam a direcionar o futuro. Considero muito importante escolhermos a quem dar atenção especial e de quem receber atenção especial. Sem hipocrisia, querendo ou não algo em troca. Não se pode é ser indiferente.

Nesse sentido, deixo aqui (mais uma vez) uma letra de música do Lenine: "É o que me interessa"


Daqui desse momento
Do meu olhar pra fora
O mundo é só miragem
A sombra do futuro
A sobra do passado
Assombram a paisagem.
Quem vai virar o jogo
E transformar a perda
Em nossa recompensa
Quando eu olhar pro lado
Eu quero estar cercado
Só de quem me interessa.
Às vezes é um instante
A tarde faz silêncio
O vento sopra a meu favor
Às vezes eu pressinto e é como uma saudade
De um tempo que ainda não passou
Me traz o seu sossego
Atrasa o meu relógio
Acalma a minha pressa
Me dá sua palavra
Sussurra em meu ouvido
Só o que me interessa.
A lógica do vento
O caos do pensamento
A paz na solidão
A órbita do tempo
A pausa do retrato
A voz da intuição
A curva do universo
A fórmula do acaso
O alcance da promessa
O salto do desejo
O agora e o infinito
Só o que me interessa

domingo, 12 de agosto de 2012

Frestas de atenção


Daqui a pouco haverá muitos pais ansiando pelo abraço carinhoso dos filhos, mais do que lhes desejando um feliz dia dos pais: dando um pouco de atenção e reconhecendo todo o cuidado que receberam deles. Naturalmente, isso diz respeito àqueles que não se tratam com indiferença ou repulsa.
Pode ser que algumas pessoas ainda estejam imersas “em sua própria arrogância, esperando por um pouco de atenção” – como cantou Renato Russo.
O fato é que não é necessário ser dia dos pais para esperar a atenção dos filhos, nem para os filhos darem atenção aos pais. Não é necessário nenhum dia especial para dar atenção para alguém. Basta que seja um dia. Basta um alguém.
A gente espera receber, assim como esperam receber da gente. Se essa relação fosse recíproca, talvez houvesse menos sofrimento. Nem sempre a pessoa que espera receber de nós uma fresta de atenção é aquela a quem queremos destinar isso. E vice-versa, claro.
Por que será que a atenção de algumas pessoas nos é tão cara? Por que fazemos questão de recebê-la? Por que a atenção de certas pessoas não nos faz a menor falta? Por que a atenção de outras nos provoca repulsa?

sábado, 11 de agosto de 2012

Dar atenção é egoísmo?

Concordo com aqueles que dizem ser muito ruim dar atenção a alguém, esperando receber o mesmo em troca. Ou ainda, quase exigindo o mesmo em troca. Algumas vezes, com sucesso; outras...
Não discordo dos que dizem ser bom dar atenção a alguém pelo mero gosto de fazer isso, independentemente de receber o mesmo de volta, de modo que se torna indiferente a receber ou a não.

Parece haver em ambos algo de bom: a disposição de prestar algum tipo de atenção a alguém. Da mesma forma, também parece que ambos têm um quê de não sei o quê, na medida em que, por um lado, se exige e, por outro, se é indiferente à reação do outro.

Nos dois, parece-me que a atenção dispensada não é ao outro. Não: é a si mesmo. Se o primeiro parece usar seu gesto como forma de obter algo de que necessita, o segundo direciona sua atenção com a finalidade de satisfazer o seu próprio desejo, a sua própria vontade.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Atenção na gente mesmo

Assim como devemos amar aos outros como a nós mesmos, também devemos prestar atenção aos outros como prestamos a nós mesmos. O fato de dever não implica necessariamente o de ser. Há quem não ame tanto a si quanto a outrem. Há quem não preste tanta atenção a si quanto presta a outrem. E vice-versa, claro. Ou não. Tenho estado mais atento a mim. Isso tem seus prós. Tem também seus contras.
Há três semanas resolvi dar atenção a algo em mim, que me incomodava muito pouco: um bendito zumbido que me acompanha há anos. Depois de ir ao otorrino algumas vezes, tomar medicamentos, fazer diversas ressonâncias e exames de toda natureza (olha que bela atenção prestei a mim), descobri que o zumbido que eu notava apenas algumas vezes, na verdade ecoa incessantemente. Eu achava que aparecia em alguns momentos do dia. Eu achava que era apenas um som parecido com o de cigarras nas árvores em fim de tarde. Eu também achava que era em apenas um ouvido. Agora que presto atenção no que ouço internamente, descobri, para meu desassossego, que o zumbido dura 24horas. Mais: que não é só barulho de "cigarras" nem é apenas em um ouvido.
Há quatro semanas, resolvi superar um pequeno trauma de infância: o de não conseguir cantar adequadamente em público. Uma vergonha, uma insegurança e uma certeza de que vou errar me arrebatam e me impedem de cantar. Impediam. Resolvi dar atenção a isso em mim. Matriculei-me em um curso intensivo, um sabadão inteiro dedicado a técnicas de desinibição para o canto. O encontro foi tão bom para mim, que me motivou a procurar uma professora de canto. Tenho aprendido a vocalizar, a respirar direito, a localizar a voz nas caixas naturais de ressonância do corpo. Tenho cantado não só para a professora, mas também para meus alunos, diante de meus colegas. Enfim, minha vergonha de cantar está se transformando em vontade de cantar. Isso porque resolvi dar atenção a algo em mim mesmo.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Des atenção

A atenção é algo que se materializa de alguma forma. Uma lembrança, que se percebe em um oi (presencial ou por qualquer rede social), em um olhar, em uma parada para ouvir, em um sorriso a distância, em um abraço bem presencial. Ela também se materializa em uma "lembrança", que vem em forma de presente. Às vezes ela se torna presente em forma de uma lembrança bem grande: uma joia, uma quantia em dinheiro, um carro, um apartamento, uma viagem. Se fora de foco, essas últimas podem desbancar aquelas primeiras e qualquer outra forma de atenção cujo valor (financeiro) seja menor. Vive-se no risco entre dar atenção demais e dar atenção de menos - eis aí uma situação em que o lapso vira sinônimo de desatenção, descuido, indiferença; uma situação em que a constância da atenção (seja lá de que forma for: "ois" demais, por exemplo) logo desgasta, perde o valor. É preciso estar na terceira margem do rio, prestando atenção para não pisar só de um lado nem só do outro do rio.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Atenção

Atenção é concentração da mente em algo que se faz, vê ou escuta. É assim que o dicionário etimológico define o termo. Vale dizer aqui que, do ponto de vista literalmente pessoal, a atenção é de mão dupla: queremos dar atenção, queremos receber atenção. Em outras palavras, esperamos que as pessoas tendam a se concentrar um pouco em nós. De igual modo, elas certamente esperam que possamos tender nossa concentração para elas. Tender para lá. Tender para cá. Um pêndulo que sustenta as relações. É preciso prestar atenção nisso.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Experimento de escrita

A partir desta segunda (06), tentarei escrever tematicamente.
Cada semana, um tema.
Vamos ver o que dá!!

domingo, 5 de agosto de 2012

Saudades do que era pra viver


Foi só um ensaio
Foi só um insight
Durou muito pouco
Doeu muito mais
Foi trailer de filme
Ensaio de orquestra
Foi jogo suspenso
No auge da festa
Foi curto e intenso
Canção de Caymmi
Foi meio Almodóvar
Foi meio Fellini
Foi como um cometa
No céu da cidade
Foi breve promessa
De felicidade
Eu morro de saudades do que era pra viver
E vivo da viagem de reencontrar você
Meus olhos do passado num futuro que nem sei
De tantas outras vidas
Mil pontos de partida
E todos os detalhes do que não aconteceu
Repetem o roteiro pra mostrar você e eu
O filme recomeça e nunca chega até o fim
E nessa nova vida
Não tem a despedida
Foi só a voz guia
Foi nem a metade
Foi estrela guia
Foi tanta verdade
Um mero rascunho
Mas foi divindade
Grafite no muro
Da minha saudade
Eu morro de saudades...

(Lenine - Meio Almodovar)

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Reinício. Revigorar.

Se o dia ontem foi marcado por uma perda, o de hoje foi marcado por recomeços. Pode parecer ingenuidade, utopia ou alguma palavra utilizada negativamente. Que pareça!
Ter revisto meus alunos de 9ºano pela manhã, como todo seu vigor pela vida, sua energia - muitas vezes mal canalizada - e sua simpatia natural foi um tanto renovador.
Já o fato de retomar as aulas na PUC, na faculdade de Letras, para alunos que em breve estarão fazendo o que faço, e que, de algum modo, carregarão em suas práticas algo do que lhes ensinei por teoria e por prática... ah, isso é absolutamente motivador!
Além da existência das minhas filhas, poucas coisas neste mundo me dão mais prazer do que ver alguém aprendendo comigo.